QUANDO A MÍDIA SE TORNOU UMA INIMIGA

Escrito pot Daniel Labanca | Redação Cult

“O POLÍTICO QUE INSISTIR EM CULPAR A MÍDIA POR
TODOS OS SEUS FRACASSOS CAIRÁ EM DESCRÉDITO”

Imagem divulgação

Engana-se quem pensa que a demonização da mídia é algo recente. Seu ponto de partida está muito, mas muito antes de Bolsonaro e das eleições de 2018. Também está bem antes de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, quando popularizou-se o termo “fake news”. Teria começado quando a chamaram de mídia golpista no impeachment brasileiro em 2016? Não, vem de tempos antes ainda. Não custa lembrar que, já anteriormente, nas manifestações de 2013 no Brasil, a multidão que estava reunida supostamente para protestar contra a passagem de ônibus e serviços públicos canalizava seu ódio apedrejando, ateando fogo e virando os carros da imprensa. E por mais que o ex-presidente Lula tenha perseverado em anos de ataques à mídia e se tornado um fomentador do ódio à imprensa nunca antes visto na história do país, ele também não foi o criador da prática. Atribuir a atual reputação da mídia a um ou outro governante destes novos tempos é ignorar décadas de história e embates. Pois em toda sua existência a mídia caminhou ao lado de suas críticas. Quem viveu para ver a maldição praguejada aos veículos de imprensa pelos falecidos Leonel Brizola, Orestes Quércia e outros tantos, sabe que nunca houve um passo sequer de veículos noticiosos sem um passo paralelo de seus algozes. Os políticos, criadores desse embate, sempre foram os maiores interessados na condenação da mídia. Por que eles iriam concordar com quem tem a função de expor fatos, de passar a limpo? Quando o ex- presidente do Brasil, José Sarney, diz que “a mídia é inimiga das instituições representativas”, quando Lula chama veículos de comunicação brasileiros de “lixo” ou quando Bolsonaro os categoriza como “inimigos”, não deveríamos ficar surpresos. Todos eles estão fazendo uso dos instrumentos que têm para alimentar sua manada seguidora de argumentos contra algo que está sendo noticiado. Nossa preocupação deve nascer quando a pobreza cultural e educacional, que produziu severos reflexos na capacidade de julgamento da população (incorporando estes discursos como uma grande massa de manobra), passa a lotear também as redações dos jornais junto a interesses político-econômicos e derrubando toda defesa que pudesse se fazer ao seu trabalho. Que é quando a imprensa erra. Pois, como qualquer outro ofício, ela nunca estará imune aos erros. O problema de agora é que são muitos os meios. E se multiplicaram exponencialmente os que se intitulam “veículos de comunicação”. Então, uns passam a levar culpa por outros. E no fim, todos levam a culpa por uns. Quando uma manchete passa a ser mais valiosa do que o conteúdo, irá ganhar mais cliques (e mais dinheiro) aquele que lançar em poucas palavras a maior bomba. E sem se importar com os feridos que a bomba pode produzir. Como em uma guerra, ninguém sairá ileso. Vencerá aquele que provar o maior número de verdades. O político que insistir em culpar a mídia por todos os seus fracassos cairá em descrédito. O veículo que produzir mais incoerência entre a manchete e o conteúdo será igualmente marginalizado. O trabalho de todos está mais difícil. Mas em um fato todos concordam: um depende cada vez mais do outro para mostrar o seu.

Daniel Labanca, diretor de cena, profissional de comunicação e amigo da mídia.

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