Dr. Guilherme de Freitas
Utilizemos esse período de isolamento para fazer uma viagem ao nosso interior.
É fato que estamos vivendo uma conturbação histórica. Tal turbulência fez com
que todos nós vivêssemos em pura ansiedade; emoções à flor da pele.
Praticamente fomos obrigados a reclusão. Em meio a essa dificuldade temos
que colher alguns frutos. Nunca se falou tanto em assistencialismo e altruísmo;
do Aurélio, atitude que visa o bem-estar do próximo, não tendo em
consideração interesses particulares. Dedicação desinteressada; ato de amar
ao próximo sem esperar nada em troca; filantropia. Na filosofia de Augusto
Comte (1798-1857), tendência natural do indivíduo que se preocupa com o
outro e, embora seja espontânea, precisa ser aperfeiçoada através da
educação positivista, evitando os instintos relacionados ao egoísmo. Pois bem,
esse sentimento só é visto na época de Natal. Subjetivamente o ser humano
somente acredita que pode ajudar alguém quando passa por alguma
atribulação. Por exemplo: se sente frio faz a Campanha do Agasalho, na
Páscoa dá chocolate, Dia das Crianças é brinquedo, e por aí vai. Eu tenho
algumas coisas para falar sobre isso: Primeiro, alguém acha que o restante do
ano faz calor todas as noites? Ou que as crianças só brincam em outubro?
Chocolate só abril? Segundo o altruísmo, pelo conceito, é uma doação ou
assistência desinteressada. O que se vê por aí é que o povo vem
constrangendo os necessitados com selfies e rede social, distorcendo o
conceito de não haver fins particulares. Por último, quero salientar a
necessidade de poder ajudar o ano todo. Muita gente tem fome, quer poder
sorrir. Desse modo, utilizemos esse período de isolamento para fazer uma
viagem ao nosso interior. Para que possamos vir a compreender o que
realmente é importante. O que é essencial para viver. Leia mais (aquele livro
que ganhou há anos); escreva qualquer coisa (uma história); assista menos
televisão (se não conseguir, veja filmes ou série). Deixe o telefone um pouco
de lado, cuidado com as famosas fake news que só aumentam a ansiedade.
Mas o importante é essa reflexão sobre tudo; entender que você vai se
encontrar na família e no amor.
#ficaadica
Dr. Guilherme de Freitas é médico bariátrico, ortopedista e traumatologista
subespecializado em Cirurgia do Quadril (USP), com atualização em Exeter (UK-
Inglaterra) e Naples (FL-EUA). Trabalhou no Hospital Santa Genoveva como cirurgião
ortopedista. De família médica uberlandense, sofreu um AVC com Síndrome do
Encarceramento aos 33 anos de idade, perdendo grande parte dos movimentos e fala,
e tornou-se escritor. É autor de “O quarto 65: uma janela para a vida”, “Desafiando a
ciência: uma metáfora da vida” e “Room 65: a window to life”.