Puxei um dedo de prosa perfeito para mesas grandes

Fui tomar café naquele espaço que lembra um quintal, mas fica em uma loja de roupas. É nesse cantinho que as clientes, que passam a ser amigas das donas, ficam para bater um papo. Sentir aquele aconchego de casa. E, sabe, não dá nem vontade de ir embora do tanto que o espaço nos abraça! Vou descrever para você: tem uma jabuticabeira plantada, samambaias, placas escritas em giz com recadinhos carinhosos e uma parede onde há o amor pregado. Corações de pano, madeira, flores, metal e a gente se sente acolhido mesmo gastando um pouquinho… Ah, e tem sempre um bolinho e café!

A mesa e as cadeiras são de ferro, feito as que ficavam – ou ainda ficam – nas casas com alpendre. Foi nesse espaço que conheci dona Ângela. Estava sentada mexendo em algumas sacolas. Cabelos branquinhos, parecendo algodão-doce. Nos cumprimentamos e ela me perguntou se eu queria comprar tapetinhos de barbante. Agradeci. Fiquei bisbilhotando a prosa dela com a Ariane, que trabalha na loja. Acertaram a compra de panos de chão e de forros de mesa. Pelo que entendi, ela tem no estoque – imagino que em casa – um forro de linho que é para forrar a refeição de famílias grandes. Tão simples.

Puxei um dedo de prosa perfeito para mesas grandes, para acolher famílias grandes. Dali iria a uma clínica. ‘Vai como?’, perguntei. De ônibus, a filha leva ou vai á pé mesmo. Adora andar e estudar; já fez inglês e francês. Não gosta de se acomodar. O cérebro, me diz, acompanha o que a gente comanda. E não é que é mesmo?! Antes de ir, ganha chinelos novos; os dela estavam gastos na sola. Fica feliz e grata, mas os guarda para usar depois. Segue com os antigos, deixando boas novas para mim….

Mônica Cunha é jornalista e apresentadora de televisão.

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