O número de mulheres que investem na B3 dobrou no ano passado, trazendo um sinal de otimismo de inclusão feminina
A B3, Bolsa de Valores de São Paulo, obteve um aumento de 92,1% de cadastros de CPFs em 2020, passando de 1.681.033 em dezembro de 2019 para 3.229.318 no mesmo período do ano passado.
Sabe-se que, entre esses investidores, as mulheres representam 26,2% do total deles. E, mesmo sendo minoria, o cenário para este público ainda é de otimismo para mudanças. O cadastro feito pelo público feminino subiu mais de 118% em comparação com os homens, que tiveram adesão menor, em 84%.
O fato de ainda serem um grupo menor neste mercado está atrelado não apenas a questões históricas como, também, a fatores maiores e estruturais. A desigualdade salarial é um ponto alto considerável, pois, segundo o IBGE, a mulher ganha em média 77% do salário do homem e isso pode vir a aumentar de acordo com o nível de escolaridade que avança. Diante disso, com uma renda enxuta, o interesse em investimentos é cada vez mais reduzido.
Segundo a assessora de investimentos e educadora financeira Bruna Silva, esse movimento tem sido coordenado pela alta disponibilidade de informações oferecidas de forma acessível em redes sociais, trazendo o assunto “investimentos” a ser um dos mais comentados na internet. Esses fatores estão associados ao atual momento, no qual se tem a Selic – taxa de juros – no menor patamar histórico, o que favorece muito o movimento para a renda variável.
O que elas mais preferem?
Silva acrescenta que as mulheres, por natureza, são mais cautelosas, mais pés no chão e analíticas, possuindo uma visão menos imediatista e mais a longo prazo. Quando se trata de investimentos, é imprescindível estabelecer metas e, por sorte, as mulheres conseguem pontuar objetivos de forma mais consistente. O maior foco das investidoras de plantão são em investimentos de longo prazo e, historicamente, possuem retornos de rentabilidade maiores que os homens, justamente por atuarem de forma mais estável no mercado de ações.
“As oportunidades estão para quem
quer aproveitá-las, independente do
gênero, mas com certeza vejo o
mercado bem aberto para nós
mulheres. E se encontrarmos alguma
porta fechada, tenho certeza que
temos capacidade para abri-la” – Bruna Silva, Assessora de Investimentos e Educadora Financeira
Educação financeira: o caminho das investidoras
A educação financeira é a principal “culpada” pela atual situação cultural financeira – ou melhor dizendo, a sua ausência. A boa notícia é que ela também consegue ser o estopim das transformações. Bruna afirma que a educação financeira contribui em todo esse movimento de investimento que o Brasil tem presenciado. Mas é preciso ter cautela, pois o brasileiro ainda continua investindo na poupança, um ativo extremamente conservador. Sair da renda fixa direto para um mercado de ações, com ativos extremamente agressivos, sem nem conhecer direito seu perfil, sem traçar seus objetivos ou detalhar suas necessidades, pode trazer dor de cabeça. Através disso, a transição pode ser feita por outros ativos intermediários, com risco similar à poupança e rentabilidade mais interessante.
Elas em ação!
Michelli Andrade, Educadora Física, investe há 2 anos em aplicações de longo prazo. O objetivo dela e de amigas próximas do mercado financeiro é ter mais segurança no futuro, a garantia da aposentadoria e também um auxílio para quando seus filhos estiverem na faculdade. Ao olhar o cenário, Andrade acredita que as informações de como investir e a existência de influenciadores nessa área acabou atingindo mais pessoas e, consequentemente, as mulheres.