Redação
João Caldas | Mila Maluhy
A TRAJETÓRIA DE UMA DAS MAIORES
DIVAS DA DRAMATURGIA BRASILEIRA
Eva Wilma, ou simplesmente Vivinha, se tornou uma das atrizes mais conceituadas e queridas do país. Com mais de 60 anos de carreira, sempre foi uma mulher de personalidade forte e uma atriz fabulosa. Nesta edição, dedicada às Mulheres Vencedoras, ela é nossa estrela de capa com matéria especial sobre o seu trabalho, hoje reconhecido pelo público e pela crítica no teatro, cinema e televisão. Nossa homenagem a esta mulher que, apesar de todo o sucesso, não abre mão da autenticidade e declara: “Eu não sou monstro sagrado nenhum. Prefiro desmitificar, ser eu mesma”. Com vocês, Eva Wilma!
Eva Wilma iniciou sua carreira como bailarina clássica aos 14 anos. Passou a dar aulas de balé com uma amiga nessa idade e ganhou aulas de patinação no gelo e foi contratada pela empresa para participar do Holliday On Ice, um dos maiores festivais de patinação no gelo do mundo, mas foi proibida por seus pais. Sendo bailarina, logo passou a fazer parte do São Paulo Ballet, de Maria Oleneva. Em 1953 apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo, apesar de a primeira vez que se apresentou nesse teatro tinha nove anos. Em 1953 sua apresentação foi juntamente com o corpo de balé do IV Centenário de São Paulo. No terceiro mês de apresentação com o corpo de balé começou a aparecer chances para atuar como atriz. O produtor e diretor do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), José Renato, chamou-a para formar a primeira turma de teatro de arena, onde atuou com grandes astros e estrelas na época nos espetáculos, Judas em Sábado de Aleluia, Uma Mulher e Três Palhaços, depois teve grande repercussão ao fazer trabalhos como Boeing-Boeing, O Santo Inquérito, A Megera Domada e Black-Out, peça produzida e dirigida por John Herbert. Fez Um Bonde Chamado Desejo, Pulzt, Esperando Godot, dirigiu Os Rapazes da Banda, depois participou de Quando o Coração Floresce, Queridinha Mamãe, pela qual recebeu o Molière de Melhor Atriz e O Manifesto. Em 1952, o diretor italiano Luciano Salce convidou-a para fazer uma participação como figurante no filme Uma Pulga na Balança, na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, simultaneamente, participou do documentário do IV Centenário de São Paulo, Se a Cidade Cantasse, do diretor Tito Banini. Protagonizou dois filmes ao lado de Procópio Ferreira: O Homem dos Papagaios e A Sogra, ambos do diretor Armando Couto, e o drama de José Carlos Burle, O Craque. Foi a estrela da cinebiografia do cantor Francisco Alves: Chico Viola Não Morreu, de Roman Vanoly Barreto, em coprodução com a Atlântida e Sonefilme da Argentina. Volta a trabalhar com José Carlos Burle em uma comédia, O Cantor e o Milionário. Atuou no policial Cidade Ameaçada de Roberto Faria, na aventura A Ilha,de Walter Hugo Khouri, e no suspense O Quinto Poder, de Alberto Pieralisi. Começa a trabalhar em coproduções estrangeiras, A Moça do Quarto 13, do americano Richard Cunha, simultaneamente, trabalha em filmes sob os olhos do alemão Horst Hachler como Noites Quentes em Copacabana e Convite ao Pecado. Premiada no Brasil e exterior, Eva Wilma, participa do filme São Paulo S/A, do diretor Luiz Sérgio Person, onde interpreta Luciana, a jovem esposa ambiciosa de um alto funcionário da indústria paulista em busca de ascensão social. Depois, ela participa de comédias como A Arte de Viver Bem,episódio 1:A Inconveniência de ser esposa, baseada na peça homônima de Silveira Sampaio, sob direção de Fernando de Barros, da co-produção Brasil-México, Juegos Peligrosos,episódio 2:Divertimento do diretor mexicano Luiz Algoriza e Cada Um Dá O Que Tem, episódio 2: Cartão de Crédito, sob direção de John Herbert. De Ricardo Bandeira faz uma pequena participação no filme religioso O Menino Arco-Íris (A Vida de Jesus Cristo). Representa a abnegada mãe de um jogador de futebol em Asa Branca, um sonho brasileiro do diretor Djalma Limongi Batista, e o Feliz Ano Velho, de Roberto Gervitz.
Eva Wilma estreou na televisão, em 1953, quando Cassiano Gabus Mendes convidou-a para atuar no seriado Namorados de São Paulo, ao lado de Mário Sérgio. Posteriormente, Gabus Mendes mudou o título da série para Alô, Doçura, e esta foi protagonizada por Eva Wilma e John Herbert durante dez anos. O seriado entrou para o Guiness Book, como o mais longo do país, e Eva Wilma recebeu o Troféu Imprensa 1964 como Destaque do Ano. Eva Wilma, Jardel Filho e John Herbert na peça teatral “Boeing-Boing”, 1963, Arquivo Nacional. John Herbert e Eva Wilma formaram o principal casal da televisão brasileira dos anos 50 e 60, depois do sucesso em Alô Doçura, trabalharam na Record, protagonizando duas novelas: Comédia Carioca e Prisioneiro de um Sonho, de Roberto Faria. O casal retornou à TV Tupi e fez trabalhos importantes como, A de Amor e Confissões de Penélope. Eva Wilma comoveu os telespectadores como a meiga Ana Maria, de Ana Maria Meu Amor, fez Fatalidade e a vilã Jane de Angústia de Amar, novela baseada no filme O Que Aconteceu a Baby Jane? Recebeu reconhecimento internacional ao trabalhar em O Amor Tem Cara de Mulher, de Cassiano Gabus Mentes, e recebeu o Troféu Imprensa de atriz revelação em 1966. Também atuou em Nenhum Homem é Deus, de Lauro César Muniz. Na década de 1970 tornou-se, ao lado de Carlos Zara, um dos principais pares românticos da televisão brasileira, juntos trabalharam em novelas de grande sucesso, teleteatros e especiais. Zara foi o diretor de teledramaturgia da TV onde interpretou uma mulher amarga, Jandira, e a sonhadora Gabriela, em Nossa Filha Gabriela, ambas de Ivani Ribeiro. Em A Revolta dos Anjos, da psicóloga Carmem Silva, interpretou a prudente Silvia. Em 1973, Eva Wilma interpretou as gêmeas Ruth e Raquel, de Mulheres de Areia, novela de Ivani Ribeiro e sucesso nacional e internacional. Trabalhou em duas novelas de sucesso da Ivani Ribeiro, A Barba Azul e A Viagem, e depois participou de duas novelas de Sérgio Jockymann, O Julgamento e Roda de Fogo. Fez o remake de O Direito de Nascer e chegou a participar das gravações da novela Maria Nazaré, que por problemas internos da emissora paulista nunca chegou a ser levada ao ar. Com o fim da TV Tupi em 1980, Eva Wilma foi contratada definitivamente pela Rede Globo, onde exerceu seu lado humorístico nas novelas Plumas e Paetês e Elas por Elas, fez a esquizofrênica Laura, de Ciranda de Pedra, a autoritária Francisca Moura Imperial, de Transas e Caretas, depois vieram a engraçada Angelina, de De Quina pra Lua, a ex-militante política Maura, que sofreu os horrores da ditadura militar, em Roda de Fogo, o sucesso Sassaricando e muitas outras novelas marcantes, como Pedra sobre Pedra, Pátria Minha e A Indomada, onde interpretou a cômica e perversa vilã Maria Altiva Pedreira Mendonça de Albuquerque que repetia sempre o bordão “Oxente, my God!”. Atuou em História de Amor, em que o autor Manoel Carlos criou um personagem só para ela, e fez também grandes produções como O Rei do Gado, Esperança, Começar de Novo e Desejo Proibido. Também participou de séries de televisão como Mulher, O Quinto dos Infernos, Os Maias, Um Só Coração, JK, Norma e Na Forma da Lei. Em 2011 volta às novelas para interpretar a cômica trambiqueira Tia Íris em Fina Estampa. Em 2014 fez uma participação em A Grande Família, no papel da Dra. Laura, a psicanalista da Dona Nenê. Já em 2015 interpreta a bon vivant e alcoólatra Fábia em Verdades Secretas. Atualmente está em cartaz com a peça “O que terá acontecido a Baby Jane?”, interpretando Baby Jane ao lado da outra grande dama do teatro, Nicette Bruno. Recentemente participou da segunda temporada da série Os Experientes e vem se dedicando ao show Casos e Cancões, onde canta várias músicas que vão de Vinicius de Moraes, Inezita Barroso, entre outros, com seu filho John Herbert Junior e Willian Paiva. O seu mais recente trabalho foi na TV Globo, na novela “O Tempo Não Para”, onde viveu Pietra.