Carlos Guimarães Coelho | Redação Cult
ESPETÁCULO INFANTO-JUVENIL CONTA A TRAJETÓRIA DA PAQUISTANESA QUE GANHOU O NOBEL DA PAZ
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Até onde pode ir uma pessoa quando o seu sonho desafia um sistema opressor e excludente? Quantos de nós somos capazes de assumir riscos de morte para afirmar diante do mundo um direito que lhe foi extirpado? Parece ficção de aventura, mas é realidade. Essa é a história da paquistanesa “Malala Yousafzai”, hoje com 21 anos, a mais jovem Prêmio Nobel da Paz, por sua luta pelos direitos das mulheres, sobretudo à educação, origem de todo o seu inconformismo diante do movimento fundamentalista islâmico que se difundiu no Paquistão e, sobretudo, no Afeganistão, nas décadas passadas e não permitiam às mulheres o acesso ao aprendizado. Essa história de coragem e enfrentamento é o tema do musical “Malala A Menina Que Queria Ir Para a Escola”, que chega à cidade nos dias 11, 12 e 13 de maio, dentro do programa Uberlândia na Rota do Teatro. A milícia Talibã tem origem nas tribos que vivem na fronteira entre Paquistão e Afeganistão. O grupo utiliza táticas de guerrilha e ataques de homem-bomba. A característica principal do grupo é ter uma interpretação muito rígida dos textos islâmicos, incluindo proibição à cultura ocidental e a obrigação ao uso da burka pelas mulheres. Mas, não foram as tradições locais que instigaram Malala a enfrentar o sistema. Ela acreditou em uma arma mais poderosa, exatamente aquela que queriam proibi-la, chamada educação. Por dedicar-se a essa crença foi baleada pelo Talibã, aos 15 anos, ao se manifestar contra a proibição da educação para mulheres. Mesmo depois do atentado, persistiu na luta contra a opressão e recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, aos 17 anos de idade.
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Malala é natural do Vale do Swat, território do Talibã no Paquistão, região de extraordinária beleza, cobiçada no passado por conquistadores como Gengis Khan e Alexandre, o Grande, e protegida pelos bravos guerreiros pashtuns – os povos das montanhas. Lá, o nascimento de mulheres é desprezado, comemora-se apenas o nascimento de meninos. As meninas são obrigadas ao matrimônio precoce, tornando-se mães aos 14 anos. Mas, não foi o caso de Malala, que escapou desse destino graças ao incentivo dos pais. O pai era professor e despertava nela o interesse pelas ciências, física, literatura, história e política e a incentivava a se indignar com as injustiças do mundo. E assim foi feito. Aos 11 anos, Malala já era conhecida por defender em seu blog o direito das meninas à educação. Um ativismo que quase lhe custou a vida. Aos 15 anos, levou três tiros na cabeça. Foi socorrida em estado gravíssimo e, após alguma melhora, transferida para um hospital da Inglaterra, onde se exilou com a família. Em suas palestras pelo mundo, frases de impacto reverberaram pelo planeta, ampliando até mesmo o escopo do ativismo de Malala, saltando-o do direito à educação para o empoderamento feminino, mesmo sendo a educação a sua maior bandeira, o que acaba se configurando também em um movimento pacifista, ao proferir afirmações como: “As armas matam terroristas, a educação mata o terrorismo” ou “Nossos livros e canetas são as armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a única solução”.
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Há duas obras que contam a história de Malala: a sua autobiografia “Eu Sou Malala”, escrita por Christina Lamb, e outra de uma autora brasileira, a jornalista Adriana Carranca. Logo após o atentado sofrido por Malala, em 2012, com ela ainda em coma, Adriana passou alguns dias no vilarejo onde viviam, entrevistou pessoas ligadas a ela, incluindo as amigas que estavam ao seu lado e também se feriram na hora do atentado. Desse período resultou a obra Malala, a Menina Que Queria Ir Para a Escola. A ideia era escrever um livro para o público adulto, mas acabou tendo sua obra dirigida ao público infantil e infanto-juvenil. Da obra, surgiu o espetáculo. Embora o nome Malala signifique “tomada pela tristeza”, essa história é de determinação e coragem e traz uma mensagem de positividade e alegria diante da vida. Uma história imprescindível para as crianças e adolescentes, contada e cantada na forma de uma aventura musical, com canções compostas por Adriana Calcanhotto, exclusivamente para o espetáculo. Um espetáculo que dignifica o ser humano e o seu direito ao conhecimento, independente de gênero.
O musical
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Malala A Menina Que Queria Ir Para a Escola teve duas temporadas de estreia no Rio de Janeiro, nos teatros Sesc Ginástico e Oi Casa Grande, com o mais absoluto sucesso. Depois delas, Uberlândia é a primeira cidade a conhecer o espetáculo, antes mesmo de entrar em cartaz em São Paulo. O livro de Adriana Carranca, editado pela Cia das Letrinhas, é um dos mais adotados em escolas públicas e particulares desde o seu lançamento. Foi premiado duplamente pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, nas categorias Livro Informativo e Escritora Revelação, em 2016. A obra também foi finalista do Prêmio Jabuti no mesmo ano e destaque na cultuada Feira Literária de Parati (Flip). O trabalho foi traduzido para o alemão, inglês, urdu e espanhol e tem edição em todos os países da América Latina. Com direção de Renato Carrera e adaptação de Rafael Souza-Ribeiro, a peça foi idealizada pela atriz Tatiana Quadros, com músicas originais de Adriana Calcanhoto. No palco, a história é encenada por oito atores e um músico, ambientada em um quintal brasileiro mágico, onde tudo se transforma: peteca vira caneta, balão vira abóbora, tijolo vira cadeira e uma casa vira escola. Destaque para as coreografias, projeção e percussão ao vivo. Para Adriana Calcanhoto, que acompanha Malala desde sempre e admira sua coragem e inteligência, foi uma alegria ser lembrada para escrever as canções. “Gostei de compor pensando em Malala porque, no fundo, quando crescer quero ser igual a ela”, se diverte Adriana Calcanhotto.
Serviço:
Espetáculo musical “Malala A Menina Que Queria Ir Para a Escola”. Dias 11, 12 e 13 de maio, no Teatro Municipal de Uberlândia. Sábado e domingo às 18h, segunda às 9h, 13h30 e 15h30 em sessões especiais para escolas. Informações: 9 9866-1727 e 9 9118-6224.
Carlos Guimarães Coelho | Jornalista e Produtor Cultural