Dr. Jorge Pfeifer | Redação Cult
“NOVOS LUGARES E VELHOS PAPÉIS”
Somos todos, homens e mulheres criados e educados para cumprir um destino. Essa, talvez, seja a grande tarefa que a vida nos impõe para nos tornarmos pessoas, sujeitos e objetos dessa grande lição. É isso que nos humaniza. Transformar o animal humano que vive dentro de nós e fazê-lo capaz de pensar e lutar para sobreviver às adversidades que a vida nos impõe. Nascer, crescer e sobreviver, estar na natureza por milênios e evoluir através da sua própria história. Esta é a condição essencial do pensamento e da razão de estar no mundo. Nessa evolução sem leis, nem razão, a violência se instaura até hoje como força que protege, mas também mata o seu semelhante. Sabemos que nessa “evolução” a força física e a dominação se tornaram as supostas garantias da própria sobrevivência. O ser humano, cheio de razões e emoções, continua lutando contra o seu grande inimigo, ele mesmo. Se num passado remoto, os encargos e tarefas domésticas representavam para a mulher a sua responsabilidade social, hoje é na liberdade pessoal e profissional que ela se redefine como sujeito e objeto de suas próprias mudanças. Com isso, homens e mulheres, iguais e diferentes, se aliam para construir uma nova realidade. A acelerada evolução populacional, criando novos lugares e papéis, transformou essa dona de casa num personagem que hoje também paga caro por investir na ruptura da mística feminina do Senhor e da Escrava. Desta dona de casa hoje se cobra uma capacidade intelectual e a habilidade para administrar as tarefas cotidianas que lhe são impostas. Como deve se sentir este personagem com tantas obrigações num mundo onde os homens se sentiam poderosos e especiais? O lugar do poder determina um grande isolamento afetivo, logo, muita solidão. O tempo para o amor é escasso, os sentimentos genuínos são raros e tudo gira em torno de interesses pessoais e profissionais, e do individualismo que divide a família num grupo dispersivo de distanciamentos afetivos e pessoais. Numa sociedade que explora homens e mulheres em personagens que competem entre si, as relações com o tempo se tornam obsoletas e a família se dissolve. Além do extremado individualismo e das desigualdades econômicas, as pessoas vão buscar no mercado profissional a garantia de se sentirem vencedores. Homens e mulheres continuam trabalhando, juntos e separados, e aceitam que todos estão comprometidos com as mudanças do mundo em sua volta. Fora disso não há solução, nem salvação, apenas luta. É nessa condição que o poder pode ser dividido e partilhado, transformando-se numa forma de prazer para todos.
CréditoDr. Jorge Pfeifer é psicólogo, psicanalista e articulista.