Margareth Castro | Jornalista
Foto Marlúcio Ferreira
APLICATIVO “SALVE MARIA” É
UMA INICIATIVA QUE SALVA VIDAS
As andanças pelas várias regiões de Minas Gerais durante a campanha para deputada estadual em 2018, fez com que a primeira-dama e secretária municipal de Governo e Comunicação de Uberlândia, Ana Paula Junqueira, conhecesse de perto a realidade de várias mulheres que convivem com a violência doméstica. Houve uma empatia por essas histórias e, a partir daí, surgiu a necessidade e preocupação em criar algo que pudesse ajudar, de forma imediata, estas pessoas. “Eu costumo pensar à noite tudo que coloco em prática no outro dia”, revela. Preocupada em encontrar uma maneira de ajudar as vítimas de violência a denunciar e assim fazer com que os casos diminuam ou sejam evitados, fez com que Ana Paula pesquisasse na internet uma solução, até encontrar um projeto parecido ao “Salve Maria” no Piauí, nordeste do Brasil. O aplicativo foi lançado no dia 12 de março e já tem resultados positivos. Em entrevista exclusiva à revista Cult, Ana Paula Junqueira fala sobre o aplicativo e dos resultados no primeiro mês de implantação.
Como surgiu a ideia de criar o aplicativo “Salve Maria?”
Durante a campanha eu andei muito e encontrei com várias mulheres. A gente tem o grupo “Maria de Minas”, que é só de mulheres e tem o propósito de conversar sobre política, porque política para mulher ainda é um problema. A grande parte vota porque o amigo, marido ou família pediu e não permite que ela pense. E, geralmente, nas rodas de conversa política, as mulheres não participam. Foi nessa caminhada que eu percebi que a gente precisava trabalhar e fazer alguma coisa para a mulher por causa da violência que está muito grande. E ela não é localizada, é de forma genérica. Comecei a pesquisar na internet e eu vi que o governo do Piauí tinha esse trabalho e nós fomos atrás. Implantamos aqui em parceria com a Polícia Militar, que é o órgão que recebe a informação na hora que a pessoa aperta o botão do pânico.
Existe projeto para ampliar ou atualizar o aplicativo?
Sim. Agora estamos estudando, junto com a Prodaub, colocar, por exemplo, se a mulher está passando por um terreno e é atacada ou sente-se ameaçada e aperta o botão do pânico e sai correndo, que o sinal a acompanhe, como uma espécie de rastreador. O aplicativo, por enquanto, está disponível apenas para o sistema Android, mas, em breve, será estendido para outros sistemas.
Da concepção do projeto, cuja ideia veio do Piauí, até a implantação foi quanto tempo?
Foram quatro meses.
E neste processo para implantação do aplicativo, quais as principais dificuldades encontradas?
Na verdade, não teve dificuldades, pois todos abraçaram a ideia. Desde a Polícia Militar, quanto a Delegacia da Mulher e o pessoal do CIM (Centro Integrado da Mulher) e da Prodaub, que trabalhou diuturnamente para o desenvolvimento da tecnologia. A gente queria a princípio fazer um aplicativo mais elaborado. Por exemplo, as mulheres que estão hoje com medidas protetivas, a gente ter para elas um lugar especial para acionar o botão do pânico de uma forma diferente, mas a gente não pode ter acesso aos processos, que andam em sigilo da Justiça. Mas, acredito que a gente vai acabar chegando a um entendimento com o Tribunal de Justiça para poder melhorar isso.
O aplicativo foi implantado no dia 12 de março. Quais os resultados?
Hoje estamos com 3.490 downloads e 4.59 de estrelas na loja de aplicativos. Esse é um resultado muito positivo. De acordo com a última conversa com a Polícia Militar, em 20 dias de funcionamento houve 30 acionamentos. Uma moradora do Bairro Pequis colocou no Facebook e comentou também que o botão do pânico salvou a vida dela.
Por que o nome “Salve Maria”? Existe o grupo “Maria de Minas”. O nome Maria é uma devoção ou só em referência às mulheres?
Não. É uma referência às mulheres, como poderia ser Ana ou qualquer outro nome. É Maria se dirigindo a qualquer mulher.
O aplicativo é um sistema tecnológico, mas existe uma central para concentrar informações ou pessoas que trabalham no “Salve Maria”? Não. É totalmente tecnológico. Ao acioná-lo, as informações vão para a Polícia Militar, onde são tomadas as medidas. Uma coisa que nos preocupou muito é que as pessoas hoje em dia, infelizmente, têm o hábito de passar trote para a PM e o ID do telefone fica registrado. Pedimos a todos muita responsabilidade, pois ao passar o trote, a pessoa tira a polícia de um serviço que ela poderia estar prestando e até socorrendo alguém. Ao baixar o aplicativo para fazer a denúncia, fica registrado, pois é preciso colocar o CPF.
O aplicativo é só para mulheres ou todos podem baixá-lo?
Não, o aplicativo é para todos. Até mesmo filhos que queiram denunciar pais podem usá-lo. O velho ditado de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, não vale mais para os dias atuais. É preciso meter a colher sim e denunciar.
Em termos de investimentos para criação e implantação do aplicativo. Quanto foi gasto?
Não houve investimentos. O sistema foi desenvolvido pela Prodaub. No CIM, precisamos colocar um computador para a Polícia e a Prefeitura tinha, então o custo foi zero, basicamente um trabalho intelectual. Foi muito legal, pois houve um engajamento de todos.
Em Uberlândia, a cada uma hora e meia é feito um registro de violência doméstica e familiar contra uma mulher. A média é de 16 casos por dia. A senhora acredita que estão acontecendo mais casos ou as pessoas estão encorajadas a denunciar?
As pessoas estão denunciando mais. Os casos de violência sempre existiram, mas eram muito camuflados. A violência contra a mulher não escolhe classe social. A gente não pode ficar enganado, achando que é algo pontual. As pessoas estão se encorajando a falar mais, a denunciar. Conversei recentemente com a Delegada da Mulher e ela me disse que em Uberlândia a delegacia está atendendo 90 mulheres ao mês. No CIM estão a Delegacia da Mulher, a Defensoria, a Diversidade Social, psicóloga, assistente social e corpo de delito. A ideia é concentrar todos os serviços em um só lugar. Este é o nosso objetivo para que a vítima de violência consiga resolver tudo em um único espaço.
Por falar em política, a senhora tem pretensões? O lançamento desse aplicativo reforça a sua imagem na cidade? É uma bandeira política?
O desenvolvimento e implantação do aplicativo foi um processo. Veio por eu ter conhecido muitas realidades que antes eu ouvia falar. Eu sabia que tinha necessidade, mas quando você passa a vivenciar histórias com pessoas próximas e você não tem o que fazer, você passa a pensar em alguma forma para ajudar. É empatia. Eu sou uma pessoa eminentemente política. Eu gosto, é minha essência. Isso não significa que eu tenha que ser candidata ou serei candidata. Onde quer que eu esteja, eu estarei fazendo política, ou seja, mesmo sozinha, essa é a minha natureza. Eu tenho uma paixão especial por fazenda, mas nada me impede de atuar em outras frentes, independente de ter um cargo eletivo. O aplicativo não é uma bandeira política. Ele veio com o objetivo de ajudar mesmo essas mulheres e fazer algo efetivo para mudar esta realidade.