ALMANAQUE CINEMA
Elizete Moura
Fotos Thiago Mesquita | Divulgação
Alguns filmes se tornaram ícones das duas frentes.
O faroeste já foi um dos principais produtos de Hollywood. Pode não ser um dos mais populares, mas ainda é o mais americano dos gêneros. Na era do cinema mudo, sua produção era intensa, devido ao seu baixo custo e por poder ser produzido rapidamente, (alguns filmes podiam ser produzidos em uma semana, desde o roteiro até a edição final). Esse gênero tem características que o tornam fácil de reconhecer. Por exemplo, podemos associar seu contexto a um local e um período histórico específico como nas produções que retratam o Oeste do Rio Mississipi, Norte dos Rios Grande e Vermelho, algum momento por volta de 1865, com o fim da guerra civil americana. O Faroeste Hollywoodiano fez muito sucesso até a década de 50, perdendo espaço para novos gêneros que foram surgindo. No entanto, na Europa ele ainda teria seus anos dourados entre as décadas de 60 e 70. Explorado, ainda que de forma menos sutil, algumas comparações podem ser feitas entre as duas produções, por exemplo, a presença das trilhas sonoras marcantes, que são quase unânimes em todo bom western. No Faroeste Spaghetti principalmente as trilhas são parte da divindade e encanto da trama. Nas obras de Sergio Leone é evidente o peso da música no envolvimento e caracterização dos personagens, uma vez que Ennio Morricone sabia como ninguém compor músicas que dessem vida às cenas. A parceria entre cineasta e compositor perdurou ao longo de suas carreiras. O modus operandi dos personagens é outro fator não muito semelhante entre as produções, considerando que em Hollywood a lei se personifica em um distintivo ou em uma entidade. Já no Spaghetti, o anti-herói age movido apenas por impulsos ou necessidades próprias, sem muitos ímpetos de consciência. O romance é um fator secundário para o Spaghetti, tornando o personagem, assim como as suas paisagens, árido e insensível, enquanto os bons moços de Hollywood, ao final da trama, sempre ficam com a mocinha. Alguns filmes se tornaram ícones das duas frentes. Aí vão sugestões para algumas horas de muita aventura, tiros e se sobrar tempo, um pouco de romance. “No tempo das diligências” – de John Ford, um dos diretores referência quando falamos em westerns.
Nesta produção está presente uma parceria de sucesso marcando o início da carreira de John Wayne, que anteriormente não teve muito destaque atuando apenas em westerns “B”, sem muita expressão. Boa parte da trama se passa a bordo da diligência, onde personagens conflitam entre si, num jogo de preconceito, moralidade e vaidade. O filme traz um “quê” de crítica social bastante pertinente aos padrões da época. Outro grande título de western americano e que vale a pena ser visto é “Matar ou morrer” – de Fred Zinnemman. O filme, além do que o sugere título, é de uma intensa complexibilidade que envolve o dilema do marshal Will Kane, interpretado pelo charmoso Gary Cooper, que hesita entre ficar ou deixar a cidade para salvar sua vida, antes da chegada de um perigoso bandido. O filme se passa em apenas algumas horas e mesmo assim podemos sentir a tensão e determinação do personagem. Em grande parte do filme não é disparado um único tiro, fato que deixa ainda mais tenso o desenrolar da trama. A cena final é a redenção, o que esperamos do bom e velho faroeste. Um dos primeiros faroestes spaghetti é “Por um punhado de dólares” – de Sergio Leone. Traz gangues rivais, contrabando e Clint Eastwood como um pistoleiro habilidoso e negociador que atua de modo a não deixar claramente definido se o mocinho é de fato mocinho, pois mostra apenas lampejos de consciência momentânea. Vale muito a pena assistir. Ainda de Sergio Leone, “Três homens em conflito” é o último da trilogia dos dólares com uma das mais marcantes trilhas sonoras de Ennio Morricone. Apresenta Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Elia Wallach como personagens que marcam entre si as mais possíveis discrepâncias. Em busca de um dinheiro roubado percorrem não só paisagens sinuosas, mas espectros de consciência complexos. O filme é de fato uma obra-prima e merece ser visto e revisto.
Elizete Moura é formada em Administração de Empresas, pós-graduada
em Marketing e gerente de Vendas. Apaixonada por cinema clássico.
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