ALMANAQUE
Elizete Moura
Fotos Thiago Mesquita | Divulgação
Hollywood teve abundância de temas para explorar à exaustão.
A máfia sempre despertou interesse, seja pela maneira carismática e luxuosa como era retratada, ou pela forma brutal como eliminavam seus concorrentes. O cinema soube muito bem explorar isso, com seus personagens reais que estampavam as capas de jornais das décadas de 20 e 30. O contexto histórico, tendo como pano de fundo a Lei seca (Lei Volstead) e a Crise de 29, foram dois gatilhos muito perigosos, criando um ecossistema de violência, desemprego e busca por sobrevivência. Hollywood teve abundância de temas para explorar à exaustão.
Um dos filmes precursores do gênero foi “Scarface – A Vergonha de uma Nação” (1932) de Howard Hawks. Aqui você vai se surpreender com a quantidade de pernas e decotes à mostra, balas e mortes violentas. Para a década de 30, os padrões do filme são um tanto excessivos, isso devido a censura da época, o código “Hays”, que ainda estava em transição e o filme pôde ser exibido sem muitos cortes. O nome ainda teve o acréscimo da partícula para demonstrar que não havia qualquer simpatia da sociedade com as organizações criminosas. O filme traz a disputa entre gangues pelo poder e a distribuição das bebidas, com Paul Muni como Tony Camonte, personagem um tanto peculiar, capaz de despertar empatia e raiva no espectador no decorrer do filme.
Ainda falando de organizações criminosas, temos “Sindicato de Ladrões” (1954) de Elia Kazan. Como sempre, o cinema explorando a realidade para trazer às telas temas que impactam a sociedade e seu modo de pensar. Aqui temos Marlon Brando excepcional, em um papel de nuances, ora bom moço, ora indeciso. O filme mostra a máfia infiltrada nos sindicatos onde controla as atividades econômicas e políticas, usando de força bruta quando não consegue seus objetivos de forma “lícita”. Em algumas cenas, se sentir que já viu algo parecido recentemente no meio político, não é mera coincidência.
Um dos mais aclamados e divisor de águas do cinema, é “O Poderoso Chefão” (1976), de Francis Ford Coppola, também com a atuação inesquecível de Marlon Brando, retrata a família Corleone, desde a chegada de Dom Vito a América, e sua escalada à riqueza e poder. Aqui o filme consegue retratar os vínculos de lealdade e compromisso dos personagens, ainda que de forma hostil existe uma certa ordem natural de como as coisas devem ser. Pode ser que este seja o encanto do filme, além, é claro, das atuações fantásticas.
Vale a pena um parêntese para o remake de “Scarface” (1984), de Brian de Palma. Apesar de ser baseado no filme de 1932, você não vai se entediar em nenhum segundo do filme, Al Pacino na pele de Tony Montana incorpora um personagem que ao longo do filme vai se degradando, mostrando que o poder corrompe sim e que somos frutos de nossas escolhas. O filme, assim como o primeiro, é cheio de violência (dada a cena da motoserra), drogas e mortes brutais. Imperdível. Outro filme que traz a máfia em sua forma mais brutal é “Os Intocáveis” (1987) de Brian de Palma. O filme se passa em 1930, também retratando a disputa entre gangues pela venda de bebidas e poder durante a lei seca, com elenco de peso traz Robert de Niro, Kevin Costner e Sean Connery. Al Capone é perseguido num cenário hostil urbano e a lei sobressai num contexto de corrupção e impunidade que pairava na época. O filme, apesar de parecer previsível, consegue trazer muita tensão e alguma redenção.
Elizete Moura é formada em Administração de Empresas, especialista
em Marketing e gerente de Vendas. Apaixonada por cinema clássico.
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