Celebrar o feminino vai além de qualquer linha de pensamento
Minha trajetória na Psicologia começou muito antes da faculdade. Nasci com uma tendência enorme para a introspecção e reflexão. Sempre estive na posição de observadora e questionadora das questões humanas. E, mais que isso, sou uma apreciadora das “personas”, ou seja, daquilo que faz de cada um de nós seres humanos únicos e complexos.
Hoje sou formada em Psicologia Junguiana pela Universidade do Triângulo Mineiro (UNITRI), tenho três pós-graduações em Psicologia Positiva pela PUC do Rio Grande do Sul, Psicologia Junguiana e Arteterapia pelo Instituto Junguiano de ensino e pesquisa (IJEP). Além disso, aventurei-me pelo mundo das artes. Formei em Teatro no curso profissionalizante para atores do Nilton Travesso, em São Paulo. E, por fim, estudei atuação para televisão e cinema. Esse caldeirão de experiências me trouxe muitas respostas e mais inspirações para minha prática dentro da Psicologia.
Reconheço que vivemos em um mundo de constante e rápida transformação e, portanto, minhas questões a respeito da psique humana são proporcionais às demandas coletivas, modernas e momentâneas.
Cresci e me desenvolvi ao lado de dois irmãos, por isso o mundo masculino sempre esteve fortemente presente em minha vida. Acredito que, por muitas vezes, o meu lado feminino se camuflava nas brincadeiras e ideias do universo dos homens. O que foi muito bom para que eu sentisse vontade de potencializar o feminino que em mim existe. E estudando a teoria de Carl Gustav Jung e todo seu aprofundamento sobre os aspectos femininos e masculinos, fui levada a pensar na igualdade dos gêneros e sua total importância em nossa psique.
Neste mês, comemoramos o dia das mulheres. Acredito na magia de ser mulher, quando levamos em consideração o privilégio de uma gestação, de parir e, por fim, de nutrir com a amamentação. Isso não faz de nós mais importantes que os homens, quando lembramos que sem os mesmos, nenhuma vida se constitui. Cabe a mim dizer que, no entanto, isso não tira de nós, mulheres, a sensação de que estamos muito ligadas ao “sagrado” e de sermos a iniciação e o primeiro tipo de relação de um ser no mundo. No útero já carregamos nossas primeiras sensações existenciais.
Celebrar o feminino vai além de qualquer linha de pensamento, seja ela feminista ou não. Mas esse respeito à mulher nos coloca no lugar de respeito à vida. Nos coloca no lugar de gratidão à natureza em sua perfeição, na perfeita completude do feminino e masculino, que resulta em vida.
Sabemos que hoje existe uma grande batalha de espaço para a voz feminina, mas muito menos do que no século passado, obviamente. Nós carregamos o eco das palavras não acolhidas por muitas, antigamente, o não dito reprimido. Nossas ancestrais criam em nós, hoje, um grito ecoante em resgate à liberdade. Nosso inconsciente nos faz sentir que podemos mais e que precisamos ir além dos limites que, durante muito tempo, nos foram colocados e que ainda são, muitas vezes.
O momento atual pede e clama pelo feminino, aquela parte que cura, nutre e acolhe. Vivemos em tempos cruéis, difíceis, complexos. Dentro de casa, famílias aglomeradas, filhos sem escola, cônjuges em home office. Demandas de casa e de trabalho, demandas pessoais de autocuidado; aquele velho clichê de que mulheres são multitarefas vive em voga. E até que isso tudo passe, ele será inevitável.
Mas não gostaria de trazer um viés vitimista, aquele que nos coloca no lugar de eternas sofredoras, carregando estigmas e tarefas impostas pelo social. Para sair dessa posição, só depende de nós mesmas escolher a melhor maneira de lidar com essas questões. Mais do que nunca, o autoconhecimento e amor próprio se tornaram questões de sobrevivência. Portanto, o melhor que fazemos por nós mesmas é estabelecer nossos limites, nos abraçando e perdoando quando, muitas vezes no final do dia, não dermos conta de todas as tarefas.
Acredito que o arquétipo da mulher maravilha precisa ser trocado pelo arquétipo da curandeira. Aquela que ajuda na própria saúde e na saúde de quem estiver ao lado. Proporcionando aconchego e cura a ela mesma, isso se reverbera para todos ao seu redor. Não conseguiremos ter o corpo perfeito, ser feliz o tempo todo, ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa e está tudo bem. O melhor que fizermos por nós já será bom o suficiente para criar relações saudáveis.
O grande mal moderno para as mulheres são os padrões ilusórios de perfeição e a comparação cruel que o mundo virtual nos trouxe. Já o grande bem que podemos fazer por nós é o cultivo ao amor próprio.
O presente de dia das mulheres nós mesmas podemos nos dar, com o auto respeito, aceitando nossas limitações, aceitando nossos defeitos e sabendo que estamos fazendo o melhor que podemos. Sem pesos e cobranças tudo flui melhor. Assim, eu espero que exista esse “flow”, esse florescer para todas nós. Aquelas flores tradicionais que recebemos no dia das mulheres, serão bem-vindas sim! Mas elas, na verdade, irão compor o jardim que já vem sendo cuidado e que, embora pareça seco, deverá ser regado com amor próprio para logo florescer novamente!
A todas nós, desejo um feliz mês e dia das mulheres!