Em 1984, estreava nos cinemas um dos filmes que mais marcaram a década de oitenta e que até hoje é uma grande referência em filmes de artes marciais. Estou falando de Karatê Kid que conta as aventuras vividas pelo jovem Daniel Larusso e seu mestre Senhor Miyagi. O longa ficou muito famoso por mostrar o ensinamento do karatê por meio de atividades cotidianas do dia a dia, como limpar o carro ou pintar uma parede. Na época, virou um fenômeno entre as crianças e adolescentes. Com isso, foram feitas três continuações (só a segunda é boa) e um remake com Jackie Chan e Jaden Smith que é até bom, mas não chega ao nível do original. Depois de 34 anos foi lançada a série Cobra Kai, trama que gira mais em torno do personagem Johnny Lawrence, fracassado desde que perdeu o torneio no filme antigo, e que busca redenção ao reabrir o infame dojo Cobra Kai, reacendendo sua rivalidade com o agora bem-sucedido Daniel LaRusso, que tem lutado para manter o equilíbrio em sua vida sem a orientação de seu mentor Mr. Miyagi.
Dois homens que direcionam os traumas do passado e as frustrações do presente na única maneira que eles sabem como resolver: através do karatê. Paralelamente ao conflito dos dois, estão as histórias dos alunos de Lawrence e LaRusso. Há os alunos do Cobra Kai: um grupo de adolescentes marginalizados que encontra uma camaradagem e autoconfiança sob a tutela de Johnny, mas levando longe demais a filosofia agressiva de seu mentor, à medida que eles começam a se degenerar na notória brutalidade da época do antigo sensei Kreese. Em contraste, o filho distante de Johnny, Robby Keene, está sob o domínio de Daniel, que demonstra uma influência positiva para o menino quando ele começa a buscar a redenção, enquanto aprende COBRA KAI as filosofias do Sr. Miyagi. Enquanto isso, Samantha, a filha de Daniel, é pega no meio desses conflitos enquanto aprende quem são seus verdadeiros amigos e um caminho melhor para seguir. Cobra Kai tem um roteiro bem escrito, leve e divertido, mantém a moral com os ensinamentos passados aos alunos dessa nova geração. A nova narrativa nos mostra um lado que não conhecíamos, o do antagonista do filme original Johnny Lawrence. Na série fica bem explícita a versão dele de que na verdade o Daniel Larusso era o malvado da história, passando-se por vítima, já que chegou à cidade roubando a namorada de Johnny e provocou várias brigas. E o bom é que mesmo os que torciam para Larusso no filme antigo, acabam repensando tudo dentro da perspectiva de Johnny que, aliada aos recursos de flashback, mostrando as cenas de conflitos entre os dois, melhoram ainda mais essa percepção. A trama é tão boa que consegue deixar o público na dúvida. “Desta vez, pra quem eu vou torcer?”. E não é só isso? No último capítulo não sabia pra qual aluno iria torcer: Miguel Diaz ou Robby Keene? Difícil escolher. Recheada de referências e homenagens aos filmes antigos, Cobra Kai tem um elenco que trabalha muito bem, além de bela fotografia e ótima trilha sonora. Os dez capítulos são muito pouco pra quem estava ansioso para assistir esta série. Agora é esperar a segunda temporada que já foi confirmada pelo YouTube Red e que estreia em 2019. Santa ansiedade, pequeno gafanhoto!
Nota 9 – Kelson Venâncio é jornalista, crítico de cinema e diretor-presidente da rede de mídias
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