Escrito por Kelson Venâncio | Redação Cult
“AS INTERPRETAÇÕES DE VIGGO MORTENSEN E
MAHERSHALA ALI SIMPLESMENTE ARREBENTAM”
Quando terminei de assistir Green Book fui dar uma olhada na internet pra saber o que as pessoas acharam do filme. E vi muitos sites falando que o longa é apenas mediano e foi uma grande injustiça ter ganhado o Oscar de Melhor Filme em 2019. Existem bons críticos especializados por aí e nem sempre sua opinião deve ser igual a da crítica. Eu, que já escrevo análises de filmes há uns 20 anos, me surpreendi com alguns textos que li e de forma alguma concordei com eles. Na minha humilde opinião, Green Book é um filme maravilhoso, daqueles que quando acaba, a vontade é dar play e assistir novamente. E ter sido consagrado no maior prêmio do cinema mundial foi algo merecidíssimo.
Quando Tony Lip (Mortensen), um segurança ítalo-americano, é contratado como motorista do Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), um pianista negro de classe alta, durante uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir o “O Guia” para levá-los aos poucos estabelecimentos que eram seguros para os afro-americanos. Confrontados com o racismo, o perigo – assim como pela humanidade e o humor inesperados – eles são forçados a deixar de lado as diferenças para sobreviver e prosperar nessa jornada. O roteiro nos conta uma história baseada em fatos reais, o que pra mim é algo que sempre me atrai. Em momento algum o filme se torna cansativo. É tão forte e divertido que nem vemos o tempo passar. Com uma pegada cômica, mas tratando de assuntos sérios, a premissa aborda de forma magistral temas interessantes e que servem para um bom debate, como racismo, homossexualismo e pobreza. O melhor de tudo é que neste longa estas questões, que são bastante comuns em diversos filmes, são tratadas de uma forma inteligente e invertida, porque os personagens principais têm uma espécie de inversão de valores. O branco é o pobre. O negro é o rico. Mas o branco que é pobre não sofre preconceito.
O negro abastado e famoso não pode jantar num restaurante. E por aí vai… A direção de Peter Farrely, que é um cineasta mais voltado para dirigir comédias, é bastante eficaz. E ele usa justamente a comédia pra colocar um alívio cômico em discussões tão profundas. O filme também possui ótima trilha sonora e bela fotografia. Mas, é claro que pra terminar esta análise, tenho que falar das interpretações de Viggo Mortensen e Mahershala Ali que simplesmente arrebentam. A química entre os dois é fantástica e dificilmente podemos contemplar interpretações tão boas de uma dupla de atores como esta. Mortensen deixa de ser o galã Aragorn, de Senhor dos Anéis, para interpretar o durão barrigudo, bobagento e desengonçado. Também dá um show de interpretação e atinge o ápice de seus trabalhos. O prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, que ele ganhou em Moonlight, nem chega aos pés do Doctor Don Shirley. Ele está excepcional e a consagração desse trabalho veio com mais uma estatueta no Oscar 2019. Alguns críticos disseram que ano que vem ninguém se lembrará que Green Book ganhou o Oscar de Melhor Filme. Pois digo que não só ano que vem lembrarei disso, mas por toda a minha vida.
Nota 10
Kelson Venâncio é jornalista, crítico de cinema e diretor-presidente
da rede de mídias Cinema&Vídeo.