Bettina Ávila | Redação Cult
AS PESSOAS TÊM DESCOBERTO O PODER DOS ANIMAIS
EM NOS AJUDAR COM LIMITAÇÕES FÍSICAS E EMOCIONAIS
Já ouviu falar de animais de serviço e apoio? Pois, então, mais do que nunca as pessoas têm descoberto o poder dos animais em nos ajudar com limitações físicas e emocionais. Animais podem ser treinados para guiar deficientes físicos, alertar deficientes auditivos, prover suporte emocional e até ajudar seus donos durante crises epilépticas. E isso não se limita a cachorros! Claro, eles são os mais comuns, mas existem registros de centenas de espécies certificadas como animais de serviço e apoio pelo mundo, como pôneis que trabalham como guias, golfinhos registrados para terapia emocional, patos treinados para aliviar stress, furões que oferecem suporte emocional para pacientes com alergias a outros animais, ratos treinados para perceber espasmos musculares, papagaios treinados para acalmar pessoas com transtorno bipolar e muito, muito mais. Estes animais são treinados, certificados e, quando pertencentes a um só dono, acompanham-no em todos os momentos, incluindo viagens. É importante notar a diferença entre animais de serviço e de apoio emocional. Animais de serviço são somente cachorros (e raramente pôneis) treinados para ajudar portadores de deficiência em seu dia a dia. Animais de apoio emocional podem ser de qualquer espécie, existem para acalmar e servir de companhia a seus donos por recomendação de um psicólogo ou médico. Nos EUA, o processo para obter uma licença para um animal de serviço é bem diferente do para apoio emocional. Animais de serviço são registrados pela ADA (Americans with Disability Act), um órgão do governo dedicado a facilitar a vida de portadores de qualquer tipo de deficiência. Eles devem passar por um rigoroso treinamento personalizado para cada tipo de deficiência. Por outro lado, animais que servem somente para suporte emocional não são protegidos pela ADA e não precisam de treinamento, já que fazem seu trabalho simplesmente por acompanhar seus donos. Uma licença para ter um animal de suporte emocional somente requere uma carta de um psicólogo ou psiquiatra dizendo que o animal dá assistência ao dono com algum tipo de transtorno emocional.
Por causa da facilidade de obter o registro de um animal de apoio emocional, infelizmente muitas pessoas estão abusando da oportunidade e registrando animais de estimação simplesmente para poder levá-los a lugares públicos e em viagens. No Brasil, infelizmente não existe um órgão governamental como a ADA que registra animais de serviço e não há nenhum tipo de oficialização de animais de apoio emocional. Há algumas organizações que treinam e doam cães-guia, mas a quantidade é mínima em relação ao número de deficientes visuais presentes no país. A única norma oficial é que cães-guia devem ser aceitos em qualquer lugar público e privado em que o dono precise ir. A maioria das companhias de aviação no Brasil seguem normas condizentes às internacionais em relação a animais a bordo – que permitem que os animais de serviço possam viajar dentro da cabine com o dono. As regras quanto a animais de apoio emocional são diferentes em cada companhia aérea, but a maioria os aceita em voos de menos 8 horas, contanto que sejam completamente vacinados e socializados. No começo de 2018, a companhia de aviação americana United Airlines teve que mudar suas regras sobre os tipos de animais aceitos depois de uma passageira ser impedida de viajar com seu pavão de apoio. Isso fez com que todas as companhias revisassem suas políticas em relação a animais.
A insuficiência de animais treinados e falta de apoio governamental no Brasil deve-se principalmente ao custo e dificuldade de obter e treinar animais-guia e animais especializados em outros tipos de suporte. Até o processo de selecionar os animais é complicado, considerando que os animais devem ser extremamente inteligentes e dedicados. O treinamento tem etapas com e sem a presença do dono e requere pelo menos um ano e meio. Animais treinados para guiar deficientes visuais devem memorizar vários tipos de comandos, ter bom senso de direção e extrema disciplina. Por exemplo, eles memorizam caminhos para levar seus donos até o mercado, ou trabalho, ou qualquer outro lugar que o dono precise ir com frequência. Eles sabem parar o dono antes de atravessar a rua para que o deficiente possa decidir quando é apropriado para atravessar, baseado no som dos carros e do som de assistência que existe em alguns sinaleiros adaptados. Estes animais vestem uma coleira especial composta de um colete e uma barra de ferro para o dono segurar e sabem que quando a estão vestindo é hora de trabalhar. O foco deles permanece 100% no dono enquanto vestem a coleira. Por isso é muito importante que outras pessoas não brinquem, passem a mão ou tentem chamar atenção do animal.
A vida do deficiente depende da atenção do animal e temos que respeitá-los. Assim que a coleira especial é retirada, o animal sabe que pode brincar ou relaxar. Animais de serviço e apoio são de extrema importância e estão cada vez mais presentes no mundo. Existem instituições no Brasil que treinam e doam cães-guia para deficientes e elas merecem todo o nosso apoio. Algumas delas são o Instituto Iris em São Paulo (iris.org.br), O Cão Guia Brasil no Rio de Janeiro (caoguiabrasil.com.br), o projeto Cão Guia em Brasília (projetocaoguia.com.br) e o Instituo Magnus em Sorocaba (institutomagnus.org). E não se esqueça, se você ver um animal vestindo um colete de serviço, não brinque, chame, nem passe mão nele. A vida do deficiente depende da atenção do animal e o melhor jeito de ajudar é deixá-lo fazer seu trabalho.
Bettina Ávila é uma cineasta brasileira formada pela New York University em Nova Iorque. As produções em que trabalhou já foram expostas em festivais de cinema por todo o mundo, como o Festival de Cannes e o Festival Internacional da Noruega. Também já trabalhou para grandes produções para a Netflix, HBO, Marvel e mais. Ama animais, participa de resgates de animais de rua e pretende conscientizar a população sobre a importância dos animais.