Honorival Fontes | In Memoriam
“AS PESSOAS NÃO SABEM MAIS O
QUE QUEREM POR NÃO TEREM FOCO”
Ponto para o qual converge alguma coisa – este é o significado da palavra Foco, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. No tempo da informação imediata, você pode ser alcançado por mais de cinco mil informações diárias. Isso mesmo! Como viver em um mundo em que as informações chegam a uma velocidade acima da capacidade de absorção daqueles que as recebem? Fugir para o campo? Deixar tudo e todos e se esconder em uma gruta? Como estar alheio a todos os acontecimentos estando conectado a uma rede gigantesca, que em parte invisível, parte tangível? Tente contar uma longa história a um adolescente ou a um jovem, hoje. A história teria que ser muito interessante e com requinte de suspense para prender a atenção, considerando ainda que o celular do ouvinte estivesse desligado ou longe de seu alcance. Do contrário, certamente sua história não chegará ao final. Há que ser curta, rápida; essa é a comunicação do nosso tempo, tudo muito ‘express’. Quando eu era criança, ouvia minha avó usar uma expressão que marcou minha memória: “meu filho, vigia se o portão está fechado”. “Meu filho, vigie isso, vigie aquilo”, sempre usava a palavra vigie. Assim, ao refletir sobre nosso tempo, percebi que muitas pessoas perderam o foco. Na pressa, o excesso de informações empobrece aquele que as recebe, pois não há tempo de reflexão, análise correta dos dados. Na robotização das tarefas, não vigiamos o que é importante, negligenciamos o cerne e apreciamos a casca. Antes de apreender uma informação ela já pereceu. É como um pão de queijo, que deixa de ser saboroso meia hora após ter saído do forno. Hoje, uma informação pode ficar ultrapassada em segundos. Vigiar é no mínimo, bíblico. A definição de foco com que comecei este texto perdeu parte do seu sentido, pois hoje o foco das pessoas está como um jato de água para cima que se espalha e se perde no ar. E foi exatamente por isso que elaborei uma palestra que intitulei “Vigie o Foco”. Uma palestra voltada para empreendedores, estudantes e profissionais diversos que necessitam focar em seus objetivos, sonhos e carreiras. As pessoas não sabem mais o que querem por não terem foco. Começam algo e logo passam para outro negócio, sem ao menos terminar o que começaram e vira uma bola de neve. Quando não se vigia o foco, a primeira consequência é a procrastinação, que muita gente define como “empurrar com a barriga”, na verdade procrastinar é deixar de fazer aquilo que é importante ser feito agora. Perder o foco é procrastinar, procrastinar é sabotar seus próprios interesses, seus sonhos, seus objetivos. Enquanto escrevo este texto, meu celular, que está ao meu lado, tenta chamar minha atenção inúmeras vezes do tipo: “Ei!! Tem mensagem nova no WhatsApp! Ei! Não vai ver? Olá!” Mas o que ele não sabe é que eu estou vigiando meu foco. Entenda que se você não vigiar o foco, não fará mais nada completo em sua vida, a todo instante você será interrompido, distraído por alguma coisa que, importante ou não, vai desviar seu foco naquele momento. Creio que o excesso de tudo nos trouxe a escassez no mesmo pacote. Excesso de informação, escassez de percepção. Perdemos a capacidade de perceber as coisas da maneira correta simplesmente por não vigiar o foco, antes de completar um raciocínio, temos outra informação para assimilar e assim sucessivamente. Mas não desanime, não quero ser pessimista, ainda há salvação. Não exagerei, mas, tentei aprofundar na questão para que possamos refletir e buscar mais atenção a detalhes que podem passar desapercebidos no dia a dia. Foco é exercício. São necessárias a reflexão e a atitude, depois, as coisas vão acontecendo até se tornarem hábitos. Deste modo, para termos hábitos saudáveis, temos que vigiar o foco.
Honorival Fontes – Empresário, Professor, Palestrante, com formação em Teologia, Filosofia, Publicidade e Propaganda, especializações em Psicanálise, Terapia Comunitária, Coach e outros cursos concernentes.
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Honorival Fontes Neto formou-se em Filosofia, Publicidade e Propaganda, dedicou boa parte de sua vida entre o mundo empresarial, a comunicação, a educação e as pessoas. Colunista e palestrante da Revista Cult, Honorival encaminhou este artigo para a redação da revista um dia antes do acidente que culminou em seu óbito. O trágico acidente levou a pessoa que acreditava nas pessoas e mantinha viva a expectativa de ajudar e transformar através de palestras, ações e exemplos. Sua precoce partida abre uma enorme lacuna para todos nós que convivemos com Honorival. Despedimos de Honorival Fontes Neto publicando seu último artigo. Fazendo-o, nos despedimos de sua vida, mas não de seu legado, da sua história e da sua importância.