ENTREVISTA COM REYNALDO GIANECCHINI 

“FIQUEI MELHOR DEPOIS DOS 40, A MATURIDADE SÓ ME FAZ BEM”

Por Gabriela Soares | Serifa Comunicação

Roberto Trumpauskas | Alexandro Adds | Divulgação

Fotógrafo: Roberto Trumpauskas

Aos sete anos, o jovem Reynaldo Cisoto Gianecchini Junior, que adorava ‘encher o saco’ da diretoria da escola para montar peças teatrais, não imaginou que aquela simples vontade de encenar com os amigos de classe se tornaria, anos depois, sua profissão e grande vocação. Hoje, passados 46 anos, o garotinho da cidade de Birigui, no interior de São Paulo, se tornou o Reynaldo Gianecchini, um dos atores de maior destaque da televisão brasileira. Em entrevista exclusiva para a Revista Cult, Gianecchini, que está no ar como o vilão Régis Mantovani na novela das nove, A Dona do Pedaço, de Walcyr Carrasco, em parceria com a atriz Juliana Paes, conta como tudo começou, como tem encarado os desafios, sobre o processo de envelhecimento, maturidade e autoconhecimento. Aos 46 anos, o ator está em paz. Graças à maturidade e ao processo de se entender cada vez mais.

Como foi a fase de transição de estudante de Direito para modelo e, por fim, ator?

Fui fazer Direito porque queria ser diplomata e conhecer o mundo inteiro. Essa vontade de descobrir o mundo surgiu porque sou de uma cidade pequena e sempre quis ser uma pessoa de mente aberta, que pudesse ampliar os horizontes. Aí, beleza. Fui fazer Direito, mas no segundo ano percebi que não era a minha. Me formei, mas eu não nasci para mexer com coisas só da razão. Vi que tinha de ir pra algo do lado mais humano mesmo, como as sensações. E ser artista é bom por isso, mexe com coisas mais internas do ser humano. Eu sempre fui ator na verdade, desde criança.

Como você se envolvia com as artes cênicas na infância?

Com sete anos eu já fazia teatro na escola. Toda semana estava com uma peça. Falava com a diretora para ceder o teatro, a gente tinha um grupo teatral na cidade. Sempre fui muito ativo, gostava de desenvolver espetáculos teatrais. 

Como foi a transição da carreira universitária para a de artista?

Fazia Direito e, ao mesmo tempo, comecei a trabalhar como modelo pra pagar minhas contas, o que acabou dando super certo. Foi, na verdade, quando minha carreira começou a deslanchar. Me formei, fui morar fora do Brasil e acabei vivendo o que queria viver, conheci o mundo. Trabalhei em muitos lugares como modelo, até que um dia achei que aquilo não dava mais pra mim e decidi voltar a estudar (artes cênicas) e fazer o que eu queria. E ser ator,  sempre foi a minha vocação.

Você tem preferência entre televisão, teatro ou cinema?

Na verdade, eu prefiro bons personagens. Não tenho o menor preconceito com nada. O ator deve fazer tudo. São três linguagens bem diferentes e muito difíceis de dominar, cada uma tem sua particularidade. Eu adoro os três.

Na lista de medos, envelhecer aparece na sua lista?  Aos 46 anos, como está sua “convivência com o espelho”?

Todo mundo se recusa a envelhecer, mas isso nunca me incomodou. Tem gente com 40 anos querendo uma aparência de 20, é um sofrimento. As pessoas têm perdido a noção do que colocam no rosto, nos tornamos reféns da estética. Queremos estar sempre sarados e jovens. Me perguntam: “Por que você não faz botox?”. Estou feliz com a imagem que reflito hoje, minhas rugas vêm com a experiência e sabedoria.

Fotógrafo: Alexandro Adds

E como anda sua compreensão de futuro?

Já faz um tempo que entendi que, nessa profissão, como em todas as outras, você tem que se divertir e viver o processo da melhor forma possível. Sem o peso da responsabilidade, sem querer tanto agradar aos outros. Eu vou ao estúdio com a sincera intenção de fazer o meu melhor. Antigamente, eu ia com o peso do mundo nas costas, achando que tinha que acertar sempre. É uma frustração quando não se consegue atingir aquilo que se espera. Hoje, estou muito mais leve e isso se reflete no meu trabalho. Não penso em ganhar prêmios. Penso no processo, no prazer. O resultado, para mim, não é o ponto mais importante. Não crio expectativas, quero curtir o presente.

Até a relação com a imprensa se reconfigurou?

Hoje está tudo mais tranquilo. Minha estrada com a imprensa foi conturbada durante um certo período, porém foi essencial para minhas melhorias. No começo, a cobrança é muito maior até pelo fato de ter que conquistar o próprio espaço.

Seus cachorros de estimação abriram espaço no seu coração?

Mano é o mais velho e está com 3 anos. Já a Mafalda só tem 6 meses e chegou para deixar a casa mais alegre. Me apaixonei loucamente pelos meus cachorrinhos, que são grandes companheiros. Eles abriram um espaço absurdo no meu coração. Eles recebem atenção em tempo quase que integral. Eu brinco que sou pai solteiro e realmente tenho feito tudo sozinho. Tem sido incrível porque tenho deixado de fazer algumas coisas minhas para ficar e cuidar deles. E isso tem sido muito positivo porque tira o foco do meu umbigo para eu cuidar de dois ‘serzinhos’, que é muito maior. É um amor tão forte e dedicação única que vejo praticamente como filhos.

Sabemos o quanto você se envolve com causas sociais. Quais as ONGS e Fundações que você ajuda hoje em dia?

Eu, hoje, sou padrinho e embaixador de alguns projetos sociais, como GRAACC, Brazil Foundation, ARD Foundation e estamos abrindo o Centro de Apoio Professor Reynaldo Gianecchini. Em homenagem ao meu falecido pai, esta instituição vem com o intuito de profissionalizar jovens e adultos, preparando-os para o mercado de trabalho.

Maria da Paz ( Juliana Paes ), Régis ( Reynaldo Gianecchini ) e Josiane ( Agatha Moreira )

Agora no ar, como Régis, como está sendo interpretar esse papel de galã/vilão?

Eu estou adorando voltar a fazer televisão. Eu tinha pedido um tempo, tirei um ano sabático, em que senti necessidade de parar tudo, me reciclar, entender também o que quero como artista, como pessoa, como ser humano. Este tempo foi maravilhoso para mim. Me enchi de energia e realmente apreciar um pouco a vida, que eu estava precisando mesmo, depois de tantos anos de tantos trabalhos seguidos. Então, fazer “A Dona do Pedaço” agora está sendo muito bom. É uma novela leve, gostosa, com um time maravilhoso de colegas e que são prazerosos de trabalhar. Vou trabalhar todo dia muito feliz e estou mais feliz ainda com a aceitação do público. O meu personagem é divertido de fazer. Ele é mau-caráter (risos) e é engraçado poder brincar com isso – de ter várias caras em um mesmo personagem. Mas, ao mesmo tempo, ele tem uma promessa que é muito bacana, que é de se regenerar. Acho que ele vai conseguir se transformar, abrir o coração e se apaixonar pela vítima dele (Juliana Paes). Acho que ele vai se contagiar com a Maria da Paz, que é o símbolo do brasileiro – lutadora, honesta, cheia de princípios. E ele, que não tem isso, vai se contagiar e se apaixonar e ela vai transformar a vida dele. Eu acho isso muito bonito. Adoro essas histórias de transformação. Então, acaba que vai ser um belo exemplo de tudo que a gente quer no Brasil: que as pessoas se transformem mesmo, que todo mundo tenha consciência de que a gente tem que trabalhar com honestidade e colocar esse Brasil para frente.

Você está com algum projeto em paralelo à novela? Tem algum projeto previsto para depois da novela?

Eu ainda não tenho certo nenhum projeto em longo prazo, até porque gosto de deixar a coisa certa aparecer. Além disso, tenho pensado muito no que quero mesmo fazer. Eu adoro televisão, teatro e cinema. Gosto de intercalar os três. São três veículos que têm suas particularidades e desafios e eu como ator gosto sempre de me desafiar e sair da zona de conforto. Então, fico esperando sempre o próximo projeto e, ao mesmo tempo, também quero sempre dar umas paradas para poder viajar, poder viver a vida, né? Poder estar com família e amigos, pois tenho me prometido isso também. Tenho olhado com muita calma, agora, depois dos 40 anos, qual vai ser meu próximo trabalho, se eu quero mesmo, o que já não quero. O meu tempo está sendo pensado de uma forma mais séria. Eu realmente quero ter tempo para fazer todas as minhas coisas e não só ser atropelado pelo trabalho.

Bate-Bola com Gyanecchini

Coragem – Sou um cara de coragem. Sinto que ao longo da vida dei muito a cara a tapa. Fui curioso, fui morar fora do país, passei por altos perrengues, inclusive de falta de grana. Topei estrear uma novela das 20h, como protagonista, sem ter experiência nenhuma. Fui criticado, achincalhado e, ao mesmo tempo, levantei a cabeça, fui fazer teatro. Quem não tem coragem não tem uma boa história. Quem tem coragem vai lá e quebra a cara, erra, mas constrói uma história legal.

A felicidade –  Acho que a felicidade tem muito a ver com um estado interno de paz. Quando você consegue se ver bem em um lugar simples e não precisa de tanta coisa, sabe? Basicamente, é quando se doma esse ego maldito que temos. Tem gente que acha que felicidade é ganhar um carro novo e sair mostrando. Pode até ser uma felicidade momentânea, mas ela também é o caminho do sofrimento: a pessoa fica presa num ego, fica dependendo de um fator externo para sentir a tal felicidade. Felicidade é estar sempre no presente. É se preocupar menos com o futuro.

Autoconhecimento – Estou em um momento profundo de autoconhecimento, de entendimento da minha interação com o universo. Entendo mesmo que não adianta pensar no seu bem-estar sem pensar no dos outros.

Tempo, tempo… – Fiquei melhor depois dos 40. Quando era bem jovem, achava que não iria envelhecer. A morte, então, nem existia para mim. Hoje, já começo a pensar: ‘Putz, na próxima piscada já terei 50 anos, depois 60, 70, 80… e tá acabando, hein!’. Mas o tempo é maravilhoso. Ele coloca tudo no lugar. Eu me conheço melhor, sei o que não quero mais. A maturidade só me faz bem.

Autocrítica – Eu me assisto sempre. Acho que é importante ver o que se pode consertar. Antes da maturidade, eu só me criticava, só via erros, ficava me ‘chicoteando’. Hoje, com o autoconhecimento, eu consigo ver também o que é legal. Vejo meu erro e ele não me machuca mais. Olho e penso: ‘Ah, beleza. Vamos tentar consertar aqui, posso melhorar ali…’. Isso está sendo muito bom. Ficar mais velho está sendo ótimo, cara!

Esta é a quarta vez que Reynaldo Gianecchini ilustra nossa capa, uma grande honra para nós, além de consolidar uma identidade com os nossos leitores. Celebrando esta nova edição, agradecemos a ele pela atenção e carinho que sempre teve para com a nossa publicação. Podemos até dizer, um “caso de amor correspondido”, que marca o recorde de quatro capas igualmente especiais para nós e o requintado público da Revista Cult ao longo destes nossos 14 anos no mercado de comunicação.

CAPAS – FOTOS

Revista Cult – Edição 87 (2012)

Revista Cult – Edição 100 (2014)

Revista Cult – Edição 116 (2015)

Revista Cult – Edição 154 (2019)

 

CRÉDITOS – ENSAIO

Fotos – Roberto Trumpauskas e Alexandro Adds

Beleza – Collab

Stylist – Tatiane Zeitunlian

Produção Executiva – Collab Produções

www.collabproducoes.com

Locações – Barra da Tijuca/RJ e ZooFoz/SP

 

 

 

 

 

 

 

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