Elizete Moura
Fotos Thiago Mesquita
As divas inesquecíveis!

O que torna um homem memorável? Imortal? Certamente é seu legado, seus feitos e os fatos construídos durante sua estada “aqui”. Essa reflexão renderia muitas e acaloradas discussões. O legado, necessariamente, não teria que ser positivo ou benéfico, prova disso é Adolf Hitler, um dos maiores vilões da história, ser uma das personalidades mais marcantes do século XX. No entanto, trataremos neste mês, especialmente, do legado deixado por grandes, fortes e inesquecíveis mulheres, a exemplo das operárias que tornaram o mês de março tão especial. Longe de serem famosas ou reconhecidas, seu legado permanece, o qual se iniciou devido a sua luta por melhores salários e por condições de igualdade no trabalho das fábricas, onde sua jornada chegava até 15 horas por dia. Que sejam eternas e memoráveis suas lutas e conquistas.
Comecemos por uma mulher espetacular e forte, à frente de seu tempo – e olha que há 100 anos isso, de fato, era ser forte. Theda Bara (1885/1955), ícone do cinema mudo e tão popular entre seus contemporâneos, a exemplo de Charles Chaplin, entretanto pouco lembrada nos dias atuais. Por que será? Considerada “Vamp” (sim, esse termo já era usado nesta época), tinha uma personalidade peculiar, seja em parte por seu estúdio Fox ter criado essa aura de mistério sobre ela, seja por sua aparência física, ao mesmo tempo frágil e marcante. O fato é que ela fez coisas impensáveis para as mulheres da época, desafiando os preceitos do código Hays, um tipo de censura a determinadas cenas dentro dos sets de filmagem, por exemplo, ao aparecer em filmes mostrando mais que os braços, explorando de forma sensual os figurinos de suas personagens. Uma delas, senão a mais famosa, “Cleópatra” (1917) teve várias outras versões ao longo da história cinematográfica. Theda foi capaz de influenciar estilos como o gótico e punk, tão atuais. Poucos de seus filmes podem ser encontrados, apesar de ela ter participado de mais de 40 produções, isso se deve ao fato de muitos terem se perdido em um incêndio nas dependências da Fox em 1937. Algumas de suas obras podem ser vistas: “Fool There Was” (1915) – esse filme tem uma qualidade visual mediana e suas descrições estão em inglês. Mas vale muito a pena assisti-lo. “Madame Mistery” (1926) – neste, a imagem está menos perceptível, mas é possível apreciar sua atuação.

E ela que não poderia faltar, minha malvada preferida, minha musa inspiradora: Bette Davis, uma das atrizes de carreira mais longeva e contraditória do cinema clássico. Bette não começou em obras badaladas, pelo contrário, antes de seu primeiro filme ser sucesso, ela havia atuado em outros 23, no entanto sem destaque, e pasmem: processou seu estúdio, a Warner, para que tivesse melhores papéis. Seria muita impetuosidade, ou certeza de seu potencial?! O que importa é que a partir daí ela pôde mostrar todo o seu talento, interpretando mulheres fortes, más, boas… Bette era muito exigente, indo a extremos para que pudesse obter o melhor de seus personagens os quais se fundiam com sua própria pessoa. Ela falava com os olhos, sua expressão dominava as cenas. Foi uma das atrizes mais indicadas ao Oscar e premiada duas vezes por sua atuação em “Perigosa”, de 1936, e “Jezebel”, em 1938. Em um de seus filmes iniciais, “Escravos do desejo” (1934)”, podemos ter uma demonstração da grandeza de Bette, esse filme é uma obra magnífica e nos prende, nos tiram o fôlego e causa as mais diversas sensações. Outro filme que nos desperta a revolta é “A carta”, de 1940, onde sua atuação minimiza a presença dos outros personagens.
O ponto é que essas personalidades, não somente as duas, mas tantas outras, conseguiram se sobressair num universo ainda muito masculino, como o do cinema, mostrando toda força e garra da mulher e, por isso, merecem ter seu legado lembrado e relembrado, para que sirvam de exemplo para nós e para outras que virão. Parabéns a todas nós, mulheres, por este mês, e que a sororidade (união e aliança entre mulheres) tão pregada, seja também uma realidade.