Dr. Jorge Pfeifer
A violência atual se manifesta como expressão de uma grave doença que nos contamina.
Vivemos em uma sociedade complexa e turbulenta, onde o mundo das
imagens se confunde com o mundo das relações. Nesse contexto e ao lado de
uma parafernália tecnológica e midiática, uma violência de homens primitivos
está solta por toda parte, no trabalho, nas famílias, nas escolas e até nos
lazeres cotidianos. Assim percebida, a violência dos nossos dias não deve ser
aceita como um problema cultural de um mundo em constantes mudanças. Ela
se manifesta como expressão de uma grave doença que nos contamina. Nessa
situação pensamos que outros fatores podem intervir nesse mal-estar. Eles
expressam a fragilidade entre os indivíduos que acabam adquirindo uma
atitude violenta e desestabilizadora. O resultado está na ausência de limites,
desrespeito às leis, delinquência, drogas e na má qualidade das relações
humanas. A visão de uma sociedade democrática se baseia na manutenção de
certos valores e direitos iguais. Somos todos iguais perante a lei. Infelizmente,
hoje observamos que nem sempre funciona dessa maneira, aumentando a
tensão e insegurança dos indivíduos. O desrespeito e as humilhações
representam o empobrecimento da nossa capacidade de lutar para mudar.
Pela negação da lei e da ordem como valores, nos tornamos indiferentes e
coniventes. O prazer de crescer e sobreviver, custe o que custar, promove a
descarga de nossos impulsos agressivos e nos tornamos também agressivos.
Isso não torna a nossa vida melhor, apenas estimula nossa hostilidade e
descontrole. Como exemplo, vemos que a juventude busca fora da família
grupos para se afirmar. Infelizmente, esses grupos estabelecem acordos onde
o compromisso e a responsabilidade podem ser substituídos desde que
promovam o caos. Roubos, violência contra a mulher, crimes insolúveis e
grandes gastos de dinheiro público sem contas a prestar. A nossa passividade
e conformismo, fazendo vista grossa para tudo, desde que não afete os nossos
privilégios, acabam por nos acostumar a falar a mesma língua, sem nos dar
conta de que essa sociedade somos nós.
Dr. Jorge Pfeifer é psicólogo, psicanalista e articulista.