A movimentação ativista focada na comunidade afro-americana, que ganhou mais força após o assassinato de George Floyd por um policial nos Estados Unidos, reverbera mudanças no contexto atual

O Black Lives Matter (BLM), originado em 2013 a partir de três ativistas norte-americanas, que luta contra a supremacia branca e a violência policial contra negros, adquiriu novas forças em maio, após a morte de George Floyd. A movimentação provocou inúmeras manifestações antirracistas em diversos países, como Inglaterra, França, Austrália, Japão e Brasil e hoje já é possível identificar seus impactos em diferentes áreas, como no consumo e produção de mídia, na linguagem e até mesmo na retirada oficial de monumentos históricos. Floyd, homem negro de 47 anos, foi morto sufocamento por Derek Chauvin, um policial branco, em Minnesota, após supostamente utilizar uma nota falsificada de vinte dólares.
A repercussão do caso, somada a acontecimentos simultâneos, como a morte de João Pedro Mattos, jovem negro baleado durante uma operação policial em São Gonçalo (RJ), fez com que a #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam) ganhasse ainda mais espaço no mundo todo, dando origem a discussões a respeito da representatividade em grandes seriados de televisão, como Gossip Girl, The Vampire Diaries e Friends.
“Desculpem-me, eu gostaria de saber o que eu sei agora. Eu teria tomado decisões muito diferentes”.”Nós sempre encorajamos a diversidade na nossa empresa, mas não fizemos o suficiente”, lamentou Marta Kauffman, co-fundadora da sitcom Friends, em um painel de discussões do ATX Festival 2020.

O movimento abalou também o universo do streaming. A HBO Max removeu do seu catálogo o romance “E o Vento Levou”, lançado em 1939, por “representar os preconceitos racistas comuns na sociedade americana” e pretende incluir novamente com elementos que contextualizem a obra. Além disso, a Netflix e a BBC também retiraram de suas programações a série de comédia “Little Britain” por blackface, maquiagem usada por atores brancos para imitar a pele negra.
Sobre o consumo de produções conscientes que tratam sobre a causa racial, o cofundador da plataforma de conteúdo Hub Preto, Douglas Alves ressalta a importância dessas obras para quem está interessado em pesquisar sobre o antirracismo e indica o longa “Queen & Slim”, dirigido por Melina Matsoukas, mulher negra. “Mostra muito a questão da violência policial e a injustiça na forma como a população preta é vista por essas autoridades”, “ele foi lançado antes do acontecido com George Floyd, porém está muito à frente”, relata Douglas.
Os debates antirracistas levantaram ainda questões acerca de termos utilizado no cotidiano que carregam conotações discriminatórias. As alterações são discutidas em diversos campos, como o da tecnologia e da música, além de análise expressões cotidianas como “lista negra”, “criado mudo”, “cor do pecado” e “mulato”, por conta de seus caráteres históricos. “É muito importante que se fale sobre isso e que mude esse cenário para que a gente consiga avançar em certos pontos na questão racial.” ressalta Douglas.
A derrubada de monumentos também foi um dos atos de grande destaque nas movimentações. Após a série de atos em protesto ao colonialismo, como a derrubada da estátua do traficante de escravos Edward Colston, na Inglaterra, diversos governos declararam mobilizações para a retirada de construções similares. Levar Stoney, prefeito da cidade de Richmond, na Virgínia, anunciou na quarta-feira (01), a remoção de monumentos como o dedicado ao comandante do exército sulista americano durante a Guerra de Secessão e defensor da escravidão, general Robert E. Lee. “Ao tirá-los, podemos começar a nos curar e centrar nossa atenção no futuro”, declarou o prefeito em sua rede social.
Por Communicare Jr. | Luísa Cardoso