Danusa Biasi e Fabiana Barcelos
Fotos Divulgação
Os abusadores são, na maioria das
vezes, pessoas aparentemente normais.
Há 12 anos, o Instituto Carrossel – ICAS, entrou na luta contra a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes em Uberlândia. A entidade foi fundada pela arquiteta Danusa Biasi. Dentre os crimes de pedofilia, existem várias vertentes: pratica um crime ligado à pedofilia aquela pessoa que comete um estupro contra uma criança, um atentado violento ao pudor contra uma criança, aquele que produz, vende, troca ou publica pornografia infantil, aquele que assedia sexualmente uma criança usando a internet, aquele que promove a prostituição infantil, etc. Existe o pedófilo não criminoso. O que isso quer dizer? É uma pessoa que é portadora da parafilia denominada pedofilia (que, portanto, tem atração sexual por crianças), que pode jamais praticar um crime ligado à pedofilia, justamente porque sabe que é errado ter relação de natureza sexual com uma criança ou usar pornografia infantil. O ICAS acredita que a prevenção é a melhor forma de evitar o abuso e que tratar o pedófilo é também uma forma de prevenir. E na Semana do Combate à Pedofilia, o Instituto Carrossel conversou com a psicóloga Mônica Lima, co-fundadora do Centro de Referência em Sexualidade – Cresex, profissional de extrema competência e experiência no tema, que sana algumas dúvidas em relação ao tratamento para pedófilos.
Mônica, obrigada por se disponibilizar a nos atender. O Instituto Carrossel resolveu trazer à tona esse tema, pois preocupados com o índice de abuso sexual, queremos saber todas as formas de prevenir o abuso. Por isso, nossa dúvida é: o tratamento pode evitar que ocorra abuso sexual?
Eu quem agradeço o convite. É muito importante falar sobre esse assunto e, sim, o tratamento do pedófilo evita o abuso sexual. O tratamento pode ajudar que não haja novas vítimas e para que aqueles que já cometeram algum crime não voltem a fazê-lo. E bom definir que abuso sexual é a violação à liberdade sexual e aos direitos humanos da criança e do adolescente. É toda e qualquer prática ou situação em que crianças e adolescentes são estimulados sexualmente, ou usados para gratificação sexual de pessoas mais velhas (adultos, adolescentes e crianças mais velhas, com diferença significava de desenvolvimento psicossexual). Não é necessário que haja contato ou violência física para que seja abuso sexual, pois a violência pode ser tanto física, quanto psicológica. Por isso, tanto conjunção carnal, como ato libidinoso, comportamento de estímulo sexual ou com intenção de gratificação sexual, por meio de palavras ou atitudes é abuso sexual.
A procura no seu consultório para tratamento é significante?
Infelizmente a procura é insignificante. É bom ressaltar que pedofilia é um distúrbio parafílico, ou seja, é um comportamento sexual que não segue a normalidade. Na pedofilia, a pessoa tem interesse intenso e persistente por crianças. Os abusadores são, na maioria das vezes, pessoas aparentemente normais e do círculo de confiança das crianças e adolescentes, como por exemplo, familiares, amigos, vizinhos, colegas ou mesmo os seus responsáveis. E o medo de ser preso(a), a falta de informação a respeito do tratamento impede quem sofre com esse transtorno de procurar a ajuda.
Quando um pedófilo pode procurar ajuda para se livrar dos impulsos e ou desejos sexuais por crianças e adolescentes? Qual é a hora?
A partir do momento em que perceber o desejo por crianças ou adolescentes. Não há como mudar o interesse destas pessoas, mas com a terapia é possível ajudá-los a controlar e não agir a partir de seus impulsos. O tratamento pode ajudar que não haja novas vítimas e para que aqueles que já cometeram algum crime não voltem a fazê-lo.
O que impede o pedófilo de procurar ajuda?
Medo de ser preso, medo de estar pensando sobre algo tão sujo e repugnante, mas incontrolável muitas vezes para essa pessoa. A falta de divulgação sobre o tratamento também é um dos agravantes para o pedófilo não procurar ajuda.
Como é feito esse tratamento? Há uso de medicamentos?
Na psicologia é feito o acolhimento dessa pessoa e nenhuma área do conhecimento dá conta de todas as particularidades de uma situação de abuso sexual sozinha. Por isso, o tratamento é feito de forma multidisciplinar e em muitos casos, sim, é necessário a medicação para controle dos impulsos.
“Apesar de sentir desejo sexual, não significa que eu irei ceder a esse desejo. Não quero abusar de nenhuma criança, já que entendo o grande potencial que tal ação tem de lhes causar mal, algo que dure uma vida inteira. Todos, sejam pedófilos ou não pedófilos, sentimos desejos sexuais por alguém, mas não por causa disso agimos por impulso sobre esses desejos. Controle sobre tais desejos é perfeitamente possível”, escreveu o brasileiro identificado como Lucas P. Folle em texto publicado no Medium em 2016.
Psicóloga Mônica Lima e arquiteta Danusa Biasi