Como o isolamento social devido a pandemia do novo coronavírus acende um novo sinal de alerta no descarte de resíduos de plástico
O ano é 2050. No horizonte, é ainda possível ver a vista do oceano. Um oceano repleto de plástico. A biodiversidade marinha agora dá lugar para uma diversidade de rótulos e embalagens. De plástico.
O cenário seria uma ambientação perfeita para um filme de ficção. Entretanto, é uma realidade cada vez mais consensual entre ambientalistas e cientistas, de acordo com uma projeção estabelecida em 2016, no Fórum Econômico Mundial de Davos.
A projeção analisada pela velejadora britânica Ellen MacArthur, em parceria com o instituto de consultoria McKinsey, identifica que a proporção entre as toneladas de lixo plástico e as toneladas de peixes dentro dos oceanos será de 1 para 1 em 2050.
Plástico e pandemia
Nenhuma das projeções analisadas sobre o impacto ambiental do resíduo de plástico nos últimos anos contavam com uma pedra imprevisível no meio do caminho: a pandemia causada pelo novo coronavírus. As medidas protocolares para conter o avanço do vírus alteraram radicalmente os hábitos da população.
A produção de plásticos na confecção de equipamentos de proteção e embalagens de produtos de higiene aumentaram significativamente para atender a demanda do consumidor. Dessa forma, também cresce o número desse material no descarte residual inadequado, seja na calçada das grandes cidades, seja nos oceanos e mares das regiões litorâneas.
Em matéria publicada pela revista The Economist, o presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) Antonis Mavropoulos estipula que o crescimento do consumo de plástico tenha sofrido um aumento de até 300% nos Estados Unidos durante a pandemia.
Para o representante, objetos descartáveis como máscara, visores e luvas de mão são alguns dos itens de plástico que tiveram sua produção intensificada. O aumento dos resíduos plásticos nesse contexto são ainda mais preocupantes devido a imprevisibilidade e incertezas geradas pelo combate ao vírus no mundo. Como ainda não há previsão certa para o fim da pandemia, a indústria do plástico continua acelerando sua produção.
Na realidade brasileira, a situação ainda é mais complexa. De acordo com relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o consumo de plástico aumentou 28% em maio de 2020 comparado com o ano anterior.
O trabalho de reciclagem mecanizada ocorre somente em algumas capitais, como São Paulo. Em grande parte do território brasileiro, o ciclo da reciclagem é incerto. No Brasil, somente 3% do lixo são, de fato, recicláveis (Abrelpe).
Pior, com a pandemia as cooperativas sofreram uma interrupção na coleta, feita predominantemente por milhares de catadores pelo país. Autoridades políticas de regiões do Brasil já negociam auxílio para os profissionais da área de reciclagem e procuram encontrar soluções para retomada das atividades em condições de segurança para os catadores, que antes da pandemia trabalhavam em condições vulneráveis, sem equipamentos e ferramentas essenciais para a coleta.
Conscientização e educação ambiental
Idealizadora do movimento Menos 1 Lixo e referência no ativismo ambiental no país, Fe Cortez revela, em manifesto nas redes sociais, que a conscientização é o primeiro passo para se tornar um agente transformador. “[ durante a pandemia] é o momento para refletir sobre a geração de resíduos. É possível armazenar o resíduo seco por um tempo, para quando a coleta voltar, não precisamos enviá-los para o lixão”, aconselha a ativista em vídeo divulgado nas redes sociais.
Além disso, é importante repensar o seu consumo, pois ele está diretamente associado à quantidade de lixo gerado no ambiente. Alternativas para diminuir ao máximo o consumo de plástico, como compras à granel, confecção de composteira caseira, busca por produtos sustentáveis são ações individuais que, coletivamente, podem gerar frutos significativos nesse desafio global.
Por Communicare Jr | Matheus Dias