O novo ano na visão dos especialistas.
Mundialmente, 2020 foi um grande teste de resiliência e de muitos aprendizados. Mais uma vez o povo brasileiro mostrou o que é se adaptar e transformar adversidades em oportunidades, confirmando o bordão conhecido: “o brasileiro não desiste nunca”. Mas o que podemos esperar de 2021? A revista Cult ouviu especialistas das áreas de Economia, Investimentos, Mercado Imobiliário, Agronegócio e Comunicação para saber quais as perspectivas para estes mercados para o próximo ano.
Agronegócio
Para muitos negócios, 2020 foi promissor e essa dinâmica positiva prossegue em 2021. Um deles é o setor agropecuário. O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) deve alcançar este ano R$ 848 bilhões com um crescimento de 13% frente a 2019. Segundo Marcelo Prado, fundador da MPrado Consultoria, uma das empresas mais respeitadas do segmento, a alta produtividade e o câmbio favorável às exportações contribuíram muito para esse resultado. Ele explica que os grandes destaques do ano foram a soja, o milho e o café, além dos suínos, bovinos e aves. “Como o Triângulo Mineiro basicamente tem todas essas culturas, contribuiu de forma direta para a geração desses resultados”, explica. De uma forma geral, o consultor explica que os agricultores tiveram grandes avanços na tecnologia, na digitalização da produção, na produtividade e na comercialização. “Podemos considerar que foi uma combinação quase perfeita. O grande desafio agora é o maior aperfeiçoamento da gestão do negócio.
É necessário que o empresário rural priorize a introdução de ferramentas de gestão mais modernas, para que ele possa evitar desperdícios, ineficiência e, ao mesmo tempo, poder reter a riqueza gerada e a perpetuidade do negócio”, acrescenta Marcelo.
Em relação ao crédito rural, observa que a grande capilaridade do Banco do Brasil, a entrada dos bancos privados, as cooperativas de crédito e as fintechs promoveram uma grande competitividade do setor. “Quem pode ganhar com isso é o empresário rural, que terá mais alternativas de financiamento e com maior agilidade. As taxas de juros que reduziram bastante, ainda podem cair mais pela concorrência. O fator desfavorável que pesa para isso é o aumento da inflação que deve fechar esse ano em 3,5% e em 2021 em 3,4%”, afirma Marcelo. Para 2021, Prado enfatiza que o potencial é de crescimento. “O Valor Bruto da Produção Agropecuária deve alcançar R$ 950 bilhões com o crescimento de 12% em relação a 2020. É claro que esses resultados ainda dependerão das condições climáticas que influenciarão diretamente a produtividade e, consequentemente, a produção. Já temos dois fatores adversos que foram a forte seca em setembro, outubro e parte de novembro, que prejudicou a cultura do café, e o plantio antecipado da soja para que o milho da safra seja plantado em esses ideais. Acredito que tenhamos queda na produção do milho safrinha por plantio atrasado e redução da área plantada. Mesmo assim, o contexto mercadológico é bastante favorável para um ano muito promissor para a agropecuária brasileira”, avalia.
Economia
A economia é um pilar importante para impulsionar os negócios. De acordo com o economista Carlos Henrique Oliveira e Silva Paixão, o que faz a economia girar é a renda da população. “Quando as pessoas perdem a renda, a economia não gira. O consumo diminui, a inadimplência aumenta, há maior negativação para crédito. Menos crédito significa menos opções de compra no varejo.
O ano de 2020 foi difícil porque com a pandemia houve fechamento de algumas empresas, outras precisaram diminuir os funcionários, o que automaticamente provoca redução no consumo”. Um fator positivo para 2020, explica Carlos Henrique, foi a redução dos juros e a concorrência entre bancos, que fez o segmento de imóveis crescer mesmo em crise. “Muitas pessoas tiveram condições de adquirir imóveis com condições factíveis. Agora, resta saber se conseguirão manter as prestações”. Carlos Henrique enfatiza que o governo tem um papel substancial na geração de renda ao pequeno empreendedor e às famílias que não são assalariadas. “Os recursos são escassos, temos um déficit orçamentário ascendente. O auxílio que o governo deu às famílias serviu para que pudessem sustentá-las na crise devido à pandemia. O governo terá que fazer um exercício fiscal para continuar ajudando as famílias que ainda precisam dessa renda. Ao contrário, teremos problemas sociais grandes. Não quero dizer que o governo precisa ser paternalista por toda vida, mas pelo menos por enquanto, é fundamental”, ressalta.
Em âmbito local, o economista avalia que Uberlândia sai à frente de outras cidades de mesmo porte. “Temos em nosso território um parque industrial de ponta e de tecnologia, que não dependem de matéria-prima tangível e, sim, de conhecimento, então, este é um grande ganho. O que as empresas buscam são eficiência e eficácia, processos e a TI ajuda muito nisso. Além disso, a cidade aporta indústrias de grande porte e de renome e atrai investidores por uma série de motivos fortemente favoráveis”, analisa. Na sua visão, falar sobre o futuro em nível econômico é um desafio porque ainda existe uma ameaça internacional que é a volta do vírus em condições sanitárias piores. Para ele, o termômetro é a Europa. Mas, salienta: “Temos que ter parcimônia e entender o processo. O cenário é desafiador, mas há possibilidades. A grande verdade que muitos insistem em ignorar é que as pessoas estão cansadas do vírus, mas o vírus não se cansou delas. Ainda não temos a vacina, mas temos mecanismo para trabalhar. Quantas ações criativas aconteceram em todos os segmentos? Muitos não sucumbiram porque o poder de adaptação do brasileiro é fantástico. Volto a dizer: Uberlândia sai na frente de outras cidades por conta desse parque tecnológico robusto e indústrias de grande porte com influência global. No caso do agronegócio, por exemplo, só alavancaram, muitos tiveram a melhor safra dos últimos tempos e isso reverbera para a economia. Que nesse momento, os políticos pensem na economia, que voltem sua atenção ao pequeno negócio e para o cidadão”, enseja.
Investimentos
O ano de 2020 foi um dos mais desafiadores para as bolsas de valores. Os investidores anseiam por melhores resultados em 2021, já que este ano foi atípico e cheio de incertezas para o mercado de investimentos. Apesar da instabilidade gerada, com o passar dos meses os investidores começaram a se acostumar com esse novo risco e estão enxergando um retorno do crescimento de processos e fusões para o próximo ano.
Rodrigo Ferreira, assessor de investimentos na Minas Capital, realça que mesmo no cenário de crise gerado pela Covid-19 conseguiram crescer e agregar valor para seus clientes e que, apesar das adversidades, preservaram o patrimônio de todos. “No cenário macro internacional, o mercado deve monitorar de perto uma possível segunda onda do Coronavírus, enquanto no Brasil temos no radar, para além da pandemia, o compromisso do governo com a questão fiscal, aprovação das reformas e as privatizações. O ano de 2021 provavelmente será de retomada de crescimento da economia brasileira e o avanço dessas pautas tendem a favorecer o mercado e, consequentemente, nosso negócio”, salienta.
O especialista observa que, por conta da pandemia, a relação com o cliente mudou muito. Poder realizar reuniões de forma virtual foi encarado como algo positivo devido à adaptabilidade da agenda do cliente, o que deve permanecer. “A agilidade na tomada de decisão é outro elemento que foi alterado. O mercado financeiro, que tem o dinamismo como característica indissociável, aprimora essa questão no cenário atípico vivido, o que passa a exigir de nós uma gestão bem mais ativa e do cliente uma tomada de decisão mais rápida. Logicamente, seguimos dando todo o embasamento para que ele tome essa decisão”, ressalta. Sobre projeções no próximo ano para a Selic, indicador econômico mais importante do mercado, Rodrigo destaca que os ajustes realizados no passado possibilitaram um ciclo de cortes na taxa básica de juros, que vêm acontecendo desde 2016. “Acreditamos que esse movimento de corte na Selic por parte do COPOM (Comitê de Política Monetária) chegou ao fim com a taxa estabilizada no patamar de 2% a.a. Já para 2021, uma leve alta na inflação deve pressionar a autoridade monetária a elevar um pouco a taxa. Seguimos o Relatório FOCUS do Banco Central, que traz uma projeção para todos os principais indicadores da economia brasileira. Atualmente, o relatório aponta a Selic em um patamar entre 2,75% a 3.00 a.a para o final de 2021, uma expectativa que também acreditamos”, destaca.
Mercado imobiliário
Um dos setores que mais cresceu em 2020 foi o mercado imobiliário. Recentemente, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) divulgou o balanço do mercado imobiliário no terceiro trimestre de 2020, com informações sobre lançamentos, vendas, oferta final, preço e o programa habitacional Casa Verde e Amarela (CVA). De acordo com o balanço, o país registrou um aumento de 8,4% nas vendas de imóveis novos (apartamentos) nos primeiros nove meses de 2020, em comparação ao mesmo período do ano passado. Em Uberlândia os dados também são positivos.
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Sinduscon-Tap), a pesquisa imobiliária do último trimestre de 2020 apontou recorde de vendas e de lançamentos. “Foram 2.800 unidades lançadas, sendo 1.117 horizontais e 1.698 verticais. Foi o maior lançamento em toda a série histórica levantada. Em relação à 2019, frente a 2020, o crescimento de unidades vendidas foi de 144%. Vendemos neste período, 2.429 unidades, sendo 880 horizontais e 1.557 verticais. Isso nos enche de expectativas para 2021. Os preços continuam sem reajustes, porém a previsão é que, no próximo ano, possa acontecer, tendo em vista o aumento de preços dos materiais de construção”, afirma o presidente do Sinduscon-TAP, Efthymios Panayotes.
Apesar dos gargalos provocados pela pandemia da Covid-19, como a necessidade de renegociação de aluguéis e de taxas condominiais em atraso e o desafio de adequação ao home office, o cenário não foi dos piores. O vice-presidente financeiro do Secovi-TAP, Alessandro Henrique Nascimento, disse que as intempéries de 2020 trouxeram aprendizados e que a vacina contra a Covid-19 trará esperança. “Todos nós ganhamos muito com a experiência vivenciada neste ano e com relacionamento próximo. 2021 será um ano bom devido ao fato do aumento de lançamentos e da procura por imóveis novos e usados. Teremos um mercado mais maduro em 2021. As pessoas darão mais atenção e prioridade para não desperdiçarem oportunidades”, ressalta.
Comunicação
A pandemia, por si só, chacoalhou muitos planejamentos de vários setores, inclusive o de comunicação e marketing. A forma de comunicar teve que ser adaptada já que tantos novos hábitos foram implementados na vida das pessoas. As marcas tiveram que inovar na maneira de falar com seu público. E esta nova realidade não deve ser muito diferente para 2021. O presidente da APP Uberlândia (Associação dos Profissionais de Propaganda), Toni Valente, arrisca dizer que 2021 será um ano melhor e com muitas oportunidades para quem produz e procura fazer a diferença com ousadia e inovação. “Sou otimista por natureza, afinal, pensar grande e pensar pequeno dá o mesmo trabalho, então acredito que podemos fazer muito mais”, enfatiza. Para ele, durante a pandemia, os negócios em publicidade e comunicação precisaram se reinventar, buscar soluções inovadoras e oferecer conteúdo relevante para as marcas”, salienta. E falando em futuro, o presidente da APP lembra que só se faz futuro com estratégia e planejamento, e quando se vive isso, no presente, em meio a uma pandemia, é preciso pensar com cautela e prevenção para não colocar tudo a perder.
Para o empresário de Comunicação, Célio Cardoso, a retomada dos negócios vai acontecer. “Empresas fecharam, mas muitas abriram e elas precisam se comunicar. Então, acredito no aquecimento do mercado em 2021. Diferente dos anos passados, não vamos parar em janeiro e fevereiro e só começar depois do Carnaval.
É preciso dar sequência e de forma rápida”, ressalta. O empresário também afirma que a forma de comunicar mudou, ficou mais digital, o que não significa que a mídia offline deixou de existir. Todos os canais de comunicação foram reinventados, a pandemia veio para antecipar uma transformação digital que ainda demoraria alguns anos. A hora agora é de planejar e adaptar. O comportamento do consumidor mudou muito, então, é preciso se adequar à estas novas necessidades. É hora de traçar estratégias e seguir. Não existe plano perfeito, existe o que está no planejamento e o que você é capaz de fazer”, acredita Célio.
O diretor da Attitude Comunicação, Adriano Gomides, também acredita que, em 2021, a dinâmica da comunicação digital e a verticalização de canais de venda online deve se intensificar.
“A pandemia exigiu mais sensibilidade de empresas, anunciantes e, por consequência, na comunicação, considerando o impacto de suas ações numa sociedade com medo, cheia de incertezas e, em muitos casos, de luto pelas perdas em empregos e vidas”, avalia. Gomides considera que em um cenário ainda bastante indefinido sobre a extensão deste período de restrições é preciso pensar e planejar para ser ousado com responsabilidade, otimista com os pés no chão, para crescer com inovação e tecnologia. “É hora de ter coragem para avançar, sem colocar vidas em risco, mas sem correr o risco de fechar as portas esperando a realidade mudar”, completa.
Educação
O ano de 2020 vai ser lembrado como de grandes transformações, isso é certeza. A pandemia trouxe muitos impactos sociais, econômicos e emocionais para todos, mas, ao mesmo tempo, acelerou a transformação digital em diversos setores e reconfigurou o modo de ensinar e aprender nas escolas. Mas, vale lembrar que, por outro lado, a tecnologia é uma barreira em muitas escolas, o celular ainda é visto como uma ferramenta não pedagógica capaz de potencializar o ensino. Além disso, muitos não têm acesso à tecnologia e oportunidades são desperdiçadas.
O professor e consultor de Marketing Digital e Gwowth Hacking, Thiago Muniz, acredita que as perspectivas para 2021 estão muito relacionadas ao desgaste dos modelos tradicionais. “A pandemia veio justamente para mostrar que o modelo de trabalho atual em que o professor simplesmente entrega o conteúdo não funciona mais.
Assim como o online fez a gente quebrar paradigmas, muitas pessoas que tinham preconceito de trabalho online e curso online aprenderam a quebrar essas barreiras e aproveitar melhor o seu tempo da forma que quiser”, avalia. Thiago também destaca que a pandemia fez com que o papel do aluno fosse para protagonista e o professor acabou ficando muito mais como um mentor e orientador. “Acredito que para o próximo ano, a gente precisa fazer com que o aluno entenda que ele é o principal responsável pelo seu conhecimento. Ele não precisa apenas dar feedbacks sobre a aula e o professor, ele também precisa fazer uma autoavaliação sobre que tipos de formatos poderia ter para trazer mais resultados e efetividade nas suas participações em aula. Acredito que o aluno precisa se ver mais como protagonista”, conclui Thiago.