Continuo a viver, viver, viver… voar, voar, voar… cantar, cantar, cantar… sobreviver!
Poeta, cantor, compositor e artista plástico, Paulinho Pedra Azul está na lista dos artistas mineiros mais importantes da MPB. Natural da cidade que leva no nome, localizada no Vale do Jequitinhonha, Paulo Hugo Morais Sobrinho nasceu em 1954 e iniciou sua carreira como artista aos 13 anos de idade. Seu estilo musical possui diversas nuances, sendo a maior parte composta de choros e canções românticas. Conheça mais sobre o autor de “Jardim da Fantasia” na entrevista a seguir:
Em tempos de COVID e isolamento social, onde estás Paulinho Pedra Azul, “nas nuvens ou na insensatez”?
Em tempos tristes de pandemia, estou na “sensatez”! Me cuidando, fico em casa e saio somente para o necessário. Escrevendo poesias, compondo com vários parceiros, já com mais de 500 músicas inéditas. Usando máscara e álcool em gel quando é preciso mesmo sair, criando projetos para o futuro e acreditando num mundo melhor, apesar de tantas perdas irreparáveis.
Carlos Drummond de Andrade, em referência a sua cidade natal, afirmou em sua poesia ‘Confidência do Itabirano’ que “Itabira é apenas uma fotografia na parede / Mas como dói!”. E, para você, a cidade de Pedra Azul é apenas uma fotografia na parede?
Na minha cidade natal Pedra Azul – que fica no Médio Jequitinhonha (MG) -, tenho sim uma bela fotografia na parede. Temos nossas dificuldades, nossos dramas sociais, mas somos do bem e nos ajudamos mutuamente. Nosso patrimônio cultural é muito rico! A música, o artesanato, a poesia, o tear, os queijos, a cabacinha e o parmesão, cachaças de alta qualidade, a melhor farinha, guloseimas, etc. Temos seis pedras enormes: Pedra da Conceição (em breve, teremos o 1° Festival de voo livre e rapel), Rocinha, Montanha, Cruzeiro, Cabeça Torta e Forno de Bolo, tombadas pelo Patrimônio Cultural Municipal, por intermédio do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o que nos orgulha muito. Além do tombamento de mais de 30 casas em estilos portugueses, franceses e italianos. A cidade é linda e bem cuidada.
Como “Viver, viver, viver / Criar penas de pássaro no ar / Voar, voar, voar” em tempos de pandemia?
Minhas asas da imaginação não foram cortadas. Alço voos internos e continuo a viver, viver, viver… voar, voar, voar… cantar, cantar, cantar… sobreviver.
De onde vem sua inspiração?
Minha inspiração vem de Deus, do meu cotidiano, dos meus sonhos, das viagens pelo mundo, dos encontros e desencontros, das inseguranças, das superações, da família, amigos, filhos, sobrinhos, afilhados, netos, amores…
Onde se usa a poesia?
Poesia se usa na defesa da vida, da justiça, no prato que muitas vezes está vazio, nas alegrias e tristezas. Poesia é vida pura, paixão, entrega, solidariedade, conforto, desabafo e muito amor.
Você acredita poder existir poetas que nem imaginam possuir tal capacidade?
Todos nós somos poetas natos; no interior de cada um, grita um escritor. Mas, alguns criam a coragem e se revelam, se expõem, sem se importarem com críticas, discordâncias, etc.; escreve porque dói, por prazer, por talento e pelo dom natural.
A poesia perdeu espaço na música brasileira?
A música brasileira continua a melhor do mundo e jamais haverá outra igual, no mundo, com tanta diversificação musical e poética. Se não prezar pela qualidade, seremos massacrados culturalmente, dominados pelo poder da música fácil e sem informações que nos faça crescer e nos valorizarmos como seres do bem, para “prepararmos” as outras gerações futuras.
Jequitinhonha ou BH?
Amo o Vale do Jequitinhonha. Vou para Pedra Azul duas vezes ao ano e faço shows pela região toda. Fico na roça que a família ainda mantém lá. Amo BH, onde moro e sou Cidadão Honorário, com muita honra. Se Pedra Azul é a minha velha e protetora mãe, de 105 anos, como Dona Diva, que está nos seus 90 anos, Belo Horizonte é a menina do meu coração.
Como é estar longe dos palcos?
Ficar longe dos palcos é ficar longe de realizar sonhos pessoais e importantes para minha vida. Esses sonhos se travam, se embolam e criam feridas imensas na minha alma. O palco é a vida de quem vive de arte. É o alimento da alma, do corpo e da mente.
O que você aprendeu na pandemia?
Aprendi a ser ainda mais solidário, a não preocupar mais com coisas supérfluas, valorizar as pequenas coisas e ser mais do que ter. Aprendi a me conhecer melhor e aos outros. Esse tempo é de dor, porém, de crescimentos e de realizar sonhos futuros.
Virão novidades pós-pandemia?
Eu já vinha com vários projetos em mente. Assim que tudo isso passar, virão, na prática, trabalhos diversos, muitas lutas, esperança e as realizações de tantos sonhos. Pós-pandemia e se pós graduar em superações. Todos nós cresceremos muito. A humanidade será outra, muito melhor, com certeza! A vida é sempre bela, apesar de tudo. Aproveitemos mais as oportunidades. Vai passar! Deus é maior!