Tentei abstrair a situação com atenção à fervura da água, ao regar das plantas e o secar da roupa no varal
Escutei o barulho assim que pisei na cozinha e já pensei: em algum lugar aqui perto tem árvore sendo decepada. Tentei abstrair a situação com atenção à fervura da água, ao regar das plantas e o secar da roupa no varal. Rente ao muro entre a vizinha e eu está o pé de romã! Um dos galhos se esparrama na parede. O laranja da tinta faz contraste com a flor vermelha da fruta que em breve vai surgir.
Segui a manhã tentando não me concentrar naquela ferramenta carregada por alguém. Até que um amiga me gritou lá no portão, uma visita inesperada no domingo. Eu ainda estava de pijama, mas como tem amizade que dispensa formalidade, fui recebê-la. Daí, vi na carroceria do carro galhos, folhas e a ignorância de quem atravessou o caule para derrubar árvore sadia. Que antipatia. Voltei correndo para dentro , trazendo minha amiga e mostrando a ela meus cactos e minha rosa trepadeira branca.
Foram 15 minutos de conversa e a motosserra gritava do outro lado da rua. E o meu estômago revirada de raiva. E naquele dia o calor resolveu vir com toda força. A temperatura me fazia sentir num forno, assando que nem pão de queijo. Quando Ângela se despediu e seguiu em direção ao carro, olhei pra frente. Na frente do que hoje é um depósito de papel, havia mais massa verde. Virou amontoado o lar das maritacas e bem-te-vis. Que antipatia! Era o pé de goiaba! Também da minha infância quando brincava naquele quintal com as colegas de rua. Pé de goiaba que também fez parte da rotina da minha família que ali também morou.
Pé de goiaba que minha vista alcançava quase toda tarde no terraço. Agora há um vazio e uma indignação a ser digerida. Ok, é um terreno do outro, mas por quê? Doente não estava. Conversei em voz alta com qualquer pássaro que ali estivesse. Que poderia contar com o meu tímido pomar. Espero que venham muitos, porque comida haverá e respeito também!