Não devemos senti-la como um pecado, um peso, uma tirania
A idade deverá ser pensada para atender os aspectos legais estruturados para esse fim. Eles foram criados para garantir direitos igualitários a todos – o que nem sempre ocorre.
As leis existem para nos proteger e garantir que esses direitos constitucionais sejam cumpridos e a nossa dignidade mantida, até a finitude.
Então não podemos negar nossa idade. Ela tem peso e valor em determinadas ocasiões, como é o caso, para atender o Estatuto do idoso.
De fato, a idade, além dos aspectos legais, serve também para dimensionar a nossa existência. Não devemos temê-la. Não devemos escondê-la. Não devemos senti-la como um pecado, um peso, uma tirania. Ela conta o tempo já vivido, a sabedoria conquistada, a resiliência aumentada, os amores sentidos, os descaminhos inevitáveis, os desafios superados. Enfim, ela conta a nossa própria história de vida.
Como diz uma amiga querida:
— quando me perguntam quantos anos tenho, respondo em média 8 ou 10 anos a mais.
As pessoas se encantam e me dizem: — como você está “conservada”!
Na verdade, isso me incomoda muito, pensam que estão me fazendo um grande elogio. Não estão, completa ela. Conservada não – essa é uma expressão que serve para designar enlatados e/ou embutidos. Não serve para dizer o quão bem eu estou.
Sábias palavras, dessa minha amiga!
Ainda falando sobre a idade.
Perguntaram, certa vez, ao velho Galileu Galilei (1564-1642), importantíssimo homem de ciências italiano:
“Quantos anos você tem?”
Ele respondeu: “Oito ou talvez dez”, em evidente contradição com a barba branca que trazia no rosto. Logo em seguida, ele explicou sua resposta:
– Tenho, na verdade, apenas os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais, do mesmo modo que também não tenho as moedas que já gastei.
Simone de Beauvoir desliza, sensível, sutil e delicadamente por entre os acometimentos comuns na senescência e as possibilidades de resistir a eles ou de conformar-se com o novo estado de SER – não significa entregar-se.
Envelhecer é simplesmente viver. E enquanto estamos vivos, somos aptos a aprender, descobrir novas formas de viver, realizando sonhos e desejos, sempre em busca da felicidade.
Por fim, devemos, como Galileu sugere, valorizar o tempo que nos resta e não ficarmos lamentando o tempo que já passou. E, se tomarmos bastante cuidado, o tempo que nos resta pode ser infinito.
Profa. Dra. Geni de Araújo Costa
Palestrante, comunicadora e escritora
Ativista – Envelhecimento ativo e bem-sucedido
Podcaster – @benditaidade