Ameaçou cair um temporal.
Daqueles que só de olhar para o céu a gente imagina que vem estrago! Mas nada. Só escureceu, ventou, trovejou e por aí ficou! A preocupação se dissipou não só em mim, mas nos pouquíssimos e bons amigos com o mesmo objetivo: compartilhar um bom jantar! Tinha um fazendo aniversário e do jeito possível celebramos com comida pra lá de gostosa. O cardápio foi surpresa. Na verdade, tudo. Então, vamos ao inesperado! É a segunda vez que vou ao lar desse casal que conheço há uns bons 30 anos e agora, nessa boa fase da vida, percebemos que sempre fomos amigos e queremos viver essa liberdade que uma boa amizade permite!
A casa deles fica lá em cima! Da rua a gente espicha o olhar e vê a sacada iluminada. Ah! E a fileira de lâmpadas na parte da frente. Nem varanda, nem quintal. Era uma combinação dos dois. Havia bancos de alvenaria pintados de vermelho e que naquele dia tinham almofadas para gente se sentir ainda mais confortável. E ali, levados pela prosa e pelo vento, brindamos a vida com vinho e coxinha! ‘Toda festa de aniversário que se preze tem esse salgadinho que é quase uma unanimidade! Quem pensou e preparou as ‘comidinhas’ foi Kristine, habilidosa que só quando se trata de receitas, panelas e mesa posta. Um talento ímpar!
Quando dei a primeira mordida na coxinha foi resgatar uma memória afetiva. Hum, que delícia! Surpreendentemente recheada com carne de panela! Enquanto saboreava, dois amigos antigos meus, novos para eles, chegaram e daí veio o caldinho de feijão apimentado na caneca esmaltada. Em círculo, tantos sorrisos e risadas vindas da alma. Que continuaram lá dentro. Ao subir as escadas e entrarmos pelo vão enorme da porta aberta que dava para a sala com sofá azul petróleo, quadro de Frida, penteadeira que virou pia e o balcão que é mesa mesmo com o fogão. Juntos ali entre tachos de cobre que viraram pratos surgem as casquinhas de bacalhau, sem igual! Minutos prolongados depois foi servido uma mexidinho de arroz com feijão, costelinha, torresmo e ovos salteados com limões prontos para serem espremidos! O espanto foi geral entre o grupo! E as boas colheradas revelaram o sabor de uma mistura tão mineira. Esse jeito de juntar tudo e dar certo. Eu me dei um tempo e percebi que Zé também. Estávamos um ao lado do outro. Naquele instante em comum: ele me sussurrou: ‘eu gosto disso.” “ Desse burburinho”, completei.
E concluímos que aquele barulhinho meio baldúrdia de vozes é viver em conexão. É comer a existência com todos os seus temperos….