A sensação é de que estamos mais conectados e, ao mesmo tempo, desconectados

As redes sociais mudaram completamente as relações humanas, desde que começaram a fazer parte do cotidiano de milhares de pessoas. Atualmente, com o uso excessivo e obsessivo das redes, muitas pesquisas e estudos questionam de que maneira esse comportamento pode afetar a saúde mental dos usuários. Em uma dessas pesquisas, obtiveram uma análise com adolescentes e concluíram que os mesmos demonstram estresse e ansiedade por não conseguirem realizar com tanto “compromisso” os afazeres, incluindo, o uso das redes.

Podemos refletir que não só no caso dos adolescentes, mas em qualquer faixa etária, o uso da internet de maneira errônea traz, comprovadamente, resultados negativos e maléficos à saúde mental dos usuários. A pressão contemporânea de estar em evidencia nas redes e a necessidade de não ficarem muito tempo desconectados das mesmas, levam ao subconsciente a mensagem de que existem dois mundos, o mundo virtual e o mundo concreto. A sensação é de que estamos mais conectados e, ao mesmo tempo, desconectados, um complexo paradoxo, na minha opinião. Conectar ao mundo virtual significa desconectar do aqui e agora no mundo concreto e isso, com certeza, gera problemas nas relações, na maneira como vivenciamos as situações cotidianas com menos atenção e foco. Isso leva a relações superficiais, já que, até mesmo para comunicar algo importante, desejar feliz aniversário ou matar a saudade de um ente querido, abrimos um aplicativo no celular e, com poucas palavras, a comunicação se dá nessa linha superficial, o que antes era feito por ligação ou presença física. De fato, estamos nos tornando mais distantes e a interação verdadeira e afetiva perdeu sua importância e, por esse caminho, a individualidade e a solidão amplificam a angústia de estarmos acompanhados pelo celular, mas sozinhos, ao mesmo tempo.

Uma questão não menos importante a ser refletida é a relação entre o “eu ideal e construído nas redes” e o “eu real e que vive por detrás das redes”. Sabemos que construímos nossas personas para sermos, possivelmente, desejados, admirados e amados pelos outros. Esse processo já ocorre no mundo concreto e na vida real. E quem fica por conta disso é o nosso “EGO”. Quando nos mostramos na rede e logo recebemos elogios e barganhas afetivas, nosso ego se infla, e a satisfação momentânea de ser quem você é preenche algum vazio ou busca existencial. A questão é que essa sensação pode causar vício e, por isso mesmo, muitas pessoas estão vivendo mais no mundo das redes do que no real, onde, muitas vezes os afetos são conseguidos com mais dificuldade e de forma mais complexa. A saída, neste caso, é fazer a autoanálise e descobrir se existe uma dependência afetiva que faça ficar mais tempo elaborando conteúdo para receber os “likes” necessários para teu “eu ideal construído para as redes” dormir tranquilo. Outra questão seria lidar com a frustação de ver como a vida perfeita e sempre lapidada que é mostrada nas redes aparece, facilmente, à sua frente e o quanto isso se torna real para você ou não. Acreditar em tudo que vemos gera crenças ilusórias a respeito dos outros e de nós mesmos. Dificilmente, as pessoas mostram o lado mais sombrio, difícil e triste de sua vida pessoal. Portanto, ir para a rede em busca de algo que conforte a sua frustação consigo mesmo não seria o melhor caminho. Autoconhecimento, nesse caso, é a melhor ferramenta para quem usa as redes, ou seja, usar com sabedoria, sabendo qual conteúdo favorece sua saúde mental ou não. O melhor caminho seria rever as pessoas que você se relaciona na rede, questionando se essas mesmas poderiam servir de inspiração positiva ou não, agregando valores para sua vida e, também, se perguntar se você desperdiça o tempo em conteúdos banais e vazios de informações construtivas.

As redes se tornaram de grande valia e importância para inúmeras pessoas, pois, são locais de trabalho além de entretenimento. Observa-se que são movimentadas por pessoas que articulam outras pessoas em torno de interesses, projetos e objetivos comuns e, como tudo na vida, existe nelas o lado bom e o lado ruim. Saber que as redes despertam novos conhecimentos e habilidades é algo positivo, mas também encarar os efeitos colaterais do uso excessivo da internet é importante. A orientação da psicologia nas clínicas e instituições é saber usar a internet com equilíbrio e sabedoria, colocando limites diários de uso, por exemplo: estipular horas e minutos estabelecidos em sua agenda diária para o uso, acrescentar atividades que conectem você com a natureza e com seu corpo mais vezes ao dia. Sair do mental e ir para o concreto é importante para fazer uma limpeza da mente e ainda, atividades que promovam mais contato físico e afetivos com pessoas. Pais de adolescentes devem colocar limites para uso das redes e dialogar bastante para acolher os sentimentos que possam ocorrer, como, depressão, ansiedade e frustação, sabendo que os adolescentes ainda não possuem todas as ferramentas emocionais e autoconhecimento suficientes para lidar com os limites e demandas que o uso da rede necessita. Então, há algumas questões para se pensar como decidir o que é publico e o que é privado? Como utilizar as redes de forma que não prejudique a mim e aos outros? Como equilibrar o mundo real e o virtual em nível de importância? Como utilizar as redes a favor do meu crescimento e saúde mental? Responder a essas questões não foi o objetivo principal deste texto e, sim, colocarmo-nos a refletir a respeito, pensando de que forma orientaremos nossos filhos e estudantes no processo de construção do conhecimento, com o uso das tecnologias digitais de modo seguro e coerente e também em como sobrevivemos ao poder que as redes exercem sobre nós e como podemos desconectar mais para conectar melhor.

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