Sou uma criatura de hábitos. Adoro fazer a mesma coisa todos os dias. Amo comer o mesmo café da manhã sempre: smoothie de frutas com couve, pão ou torradas com geleia de damasco e manteiga de amendoim. Gosto de malhar na mesma academia. Adoro ir aos mesmos restaurantes preferidos toda vez que saio para comer fora. No Rio de Janeiro, os meus restaurantes preferidos são o Teva, o Org Bistro e o Celeiro. Aliás, o ex Hostess do Celeiro, mais conhecido como André, dizia até que eu era sócia de lá. Em São Paulo, eu sempre como no Green Kitchen. Por ser frequentadora assídua de lá, ontem mesmo, uma agência de publicidade de Sampa – que está fazendo um trabalho de branding da marca desse restaurante, me entrevistou para saber a minha opinião sobre o Green e o que eu penso que eles poderiam melhorar. E eu, na hora, respondi que nada. O Green Kitchen é o melhor restaurante de São Paulo. Sem defeitos. O fato é que eu sou o tipo de cliente que todo mundo deseja ter. Quando satisfeita, eu volto sempre. Por anos. E ainda faço propaganda.
Esse meu jeito costumeiro de ser não se restringe apenas à minha existência no mundo como consumidora. Não, não, não. Eu sou leal em todas as minhas relações pessoais. Se alguém me faz um favor ou é gentil comigo, em qualquer momento da minha vida, eu me sinto na obrigação de retribuir o feito. Quando o meu pai levou a minha madrasta para apresentar a mim na Califórnia no ano de 2000, ele disse a seguinte frase: – Tome cuidado com o que fala, pois a Juliana não esquece nada. Ela se lembra de uma palavra ruim que alguém falou para ela em 1982. Tal como ela lembra de um presente que alguém deu para ela em algum lugar do passado ou algo de legal que alguém fez e fica agradecida eternamente.
Sobre lembrar de frases ruins, o meu pai estava em parte certo. Lembro sim, mas, por personalidade, não guardo lá muita mágoa. Pelo contrário. Eu, muitas vezes tenho que me lembrar de que fulano de tal não foi legal comigo e, portanto, não devo falar com ele. Porque, em geral, a minha tendência é esquecer as coisas estranhas que passei com qualquer pessoa e só lembrar as coisas boas. Eu de alma sou uma mulher humanista e romântica. Ou seja, eu romantizo tudo, até as cagadas. Outro dia mesmo, liguei para o meu melhor amigo e pedi para ele me lembrar da razão de eu ter querido me separar.
Só que ser leal assim não significa que eu mantenha perto de mim qualquer pessoa que já chamei de amigo na vida ou que namorei ou, até mesmo, que me casei. Isso eu não faço. Até porque há laços na vida que devem ser rompidos, outros reforçados. E a verdade é que há pessoas que vêm com data de expiração. Eu, por exemplo, tinha duas amigas de infância e adolescência, que me acompanharam até parte da vida adulta, que cortei laços. As duas foram para caminhos, totalmente, diferentes do meu. Uma, eu creio que pertença ao hospício e a outra, com o passar do tempo, percebi como alguém de caráter um tanto quanto duvidoso. Ou seja, eu tenho zero vontade de manter essas amizades, hoje em dia. Isso dito, desejo o bem para elas, e o meu coração está eternamente marcado por toda farra e todos momentos belos que passamos nos nossos anos dourados.
Essa minha maneira de estar no mundo também se traduz para os meus pares românticos. Por personalidade, eu diria que sou o tipo de pessoa que poderia estar casada com um único namorado a vida toda. Quando amo, não sou do tipo que me enjoo de alguém, que preciso de novidade, pelo contrário. Amo amar o mesmo homem um milhão de vezes, várias vezes ao dia, centenas de vezes ao ano. Tivesse eu escolhido melhor, jamais teria me separado nas duas vezes em que me casei. Tanto que nas únicas duas vezes em que eu amei na vida, me separei apenas porque era o que, racionalmente, tinha de ser feito. De um eu me separei porque ele tinha algumas questões mal resolvidas que, no fundo, o impediam de ser, como posso dizer, um sujeito calmo. E a verdade é que eu não consegui lidar com isso. Do outro, me separei, simplesmente porque ele era fraco. E não tem como fazer um matrimônio prosperar com alguém covarde. Até porque, para amar alguém, é preciso ter coragem. Enfim, o fato é que, nas duas separações, eu fui embora ainda amando. E poderia, tanto com um, quanto com o outro, ficar amando para sempre. O amor verdadeiro tem o hábito de voltar.
Muito se fala mal de hábitos e rotina. Mas os hábitos também podem ser reconfortantes. Se você seguir as mesmas rotinas todos os dias, saberá, principalmente, o que esperar. A verdade é que os nossos hábitos são como âncoras que mantêm nossas mentes calmas e focadas e nossos corpos descansados. Ademais, a maior vantagem de uma rotina é que ela cria pontos de referência, ao longo dos dias, que deixam o nosso cérebro saber quando coisas familiares vão acontecer. Coisas como hora de refeição, meditação, exercício, tempo em família, tempo de silêncio e hora de dormir. No fim das contas, acho que ter uma rotina e hábitos reduz o estresse da gente. Eu sei que fazer a mesma coisa sempre, comer a mesma comida, torna a vida bastante regrada mas, quando a minha rotina não é seguida por um período prolongado, me sinto um tanto perdida e não gosto. Sem mencionar que, como sou o tipo de pessoa que já é “viajandona” por natureza, que já vive em um universo paralelo na maior parte do tempo, ter uma rotina, ter hábitos que me dão segurança me mantém centrada.
Há quem diga que uma desvantagem dos hábitos é que muitos podem privá-lo de serendipidade, o que eu não concordo. Até porque eu acredito, piamente, no acaso, acredito que aquilo que é para ser da gente tem muita força. Então, não é porque sou uma criatura de hábitos que o acaso não me traz surpresas. Outra coisa que vale a pena mencionar é que o fato de eu gostar de hábitos não quer dizer que eu seja uma mulher estacionada, muito pelo contrário. Já morei em New York, na Califórnia, já me casei e me mudei para Curitiba, já fiz o mesmo em São Paulo. Coragem não me falta. Inclusive, para começar do zero quantas vezes for preciso e cultivar os meus hábitos em um ambiente novo.
Resumo da ópera: Sou uma fiel defensora dos hábitos, principalmente, pois sei, tanto pela experiência quanto pela observação, que não há melhor maneira de ter uma vida significativa do que ter bons costumes. Vou morrer defendendo a premissa de que hábitos são, além de tudo, uma maneira de nos mantermos sãos neste mundo caótico.
Ademais, se algo funciona para você, se lhe faz feliz ou lhedá prazer, por que mexer em time que está ganhando?