Darah Gomes | Jornalista
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Empreendedoras feministas e sustentáveis ditam o futuro da moda em Uberlândia.
Com um acelerado ritmo de produção, a indústria da moda já produz aproximadamente quatro mil peças de roupas por segundo, de acordo com uma pesquisa da ONG World Resources Institute. Cada dia que passa o volume crescente de produção tem chamado a atenção para o impacto causado no meio ambiente, por isso novas formas de produção e consumo têm atraído os olhares de quem busca uma alternativa sustentável. Uma opção que tem caído cada vez mais no gosto do consumidor são os bazares, lojas especializadas em comercializar produtos usados em bom estado de conservação por preços muito abaixo dos itens novos no mercado. Desta forma, as pessoas podem reutilizar peças que já não seriam mais usadas. Este é o caso das clientes do Próximo Closet, bazar em Uberlândia que vende peças desde Chanel e PatBO a Forever 21. “Nossa triagem é baseada nas marcas que produzem roupas atemporais. Nosso grande foco é a acessibilidade do público a marcas que normalmente não consumiria nas próprias lojas, devido ao preço exorbitante que os custaria”, explicou as fundadoras do projeto, Kariny Dorça.
Outro meio de consumo que está em alta pelo mundo são os aluguéis. Enquanto há alguns anos as pessoas estavam acostumadas a locar apenas roupas para grandes eventos, hoje a situação mudou. A H&M, empresa multinacional de moda, percebeu essa mudança em 2019 e apostou em uma loja, entre as mais de cinco mil espalhadas pelo globo, apenas para aluguel de peças da marca. A parte financeira é um destaque para as locações. Além do cliente pagar mais barato por uma peça, a loja tem uma rotatividade maior dos produtos e não precisa necessariamente investir em novos itens, o que é benéfico para ambos. Douglas Moreira Filho, empresário do ramo, chega a faturar R$200 mil anualmente e, de acordo com a agência Reuters, esse mercado deve movimentar mais de R$7 bilhões entre 2018 e 2023. Esse tipo de consumo é uma forma de atender a nova geração, que aderiu as Fast Fashions e tem a tendência de se desfazer das peças cada vez mais depressa. “A sazonalidade é cada vez mais demarcada e acelerada, o que ‘obriga’ as pessoas (é uma obrigação velada, implícita) a comprarem outros produtos, sendo que as peças que elas têm ainda durariam. É um sistema que impulsiona a comprar mais”, explica a designer de moda Verena Ferreira Tidei de Lima. Acima de tudo, o aluguel é um apoio à sustentabilidade na redução do consumo e um incentivo para as empresas diminuírem a produção. E foi com essa ideia que a empresária Jeniffer Garcia fundou a Schöenbags, empresa de aluguel de sapatos, bolsas e acessórios de luxo. “Não é uma questão de poder ou não comprar, é uma nova forma de consumir. Nós estamos em um momento que não escolhemos mais a sustentabilidade, somos obrigados a isso, não é uma opção”, contou. Além da sustentabilidade, Jeniffer acredita que a empresa seja uma forma de dar voz e independência financeira das mulheres. “Trabalhava com consultoria financeira e me deparei com uma cliente que tinha muitas peças de luxo que ficavam paradas. Entendi que isso fazia um mal pra ela, além de ter visto nela uma mulher empreendedora e poderosa sendo abafada pelo machismo na cultura patriarcal. Então, vender os itens não iria ressignificar o que aquilo representava, por isso fiz a proposta para que juntássemos as peças de marca que tínhamos”, explicou.
A empresa, inclusive, foi uma homenagem às matriarcas de ambas. Elas lançaram o projeto no dia do aniversário da mãe da Jeniffer e o schöen é uma parte do sobrenome materno da outra investidora. “Como essa empresa nasceu das nossas histórias, resolvemos honrar as nossas mães, que sempre abriram mão de tudo por nós e nos passaram a veia empreendedora”, afirmou. Essa ideia feminista é algo que, segundo Jeniffer, passa para as mulheres através das peças. Cada item da Chanel, por exemplo, traz a força e história da Gabrielle Bonheur Chanel, conhecida como Coco Chanel, que fundou a marca. “A primeira vez que eu segurei uma bolsa dela eu me senti a mulher mais poderosa desse mundo. Acredito que as peças tenham a energia das mulheres que as produziram e enfrentaram tantas coisas para se expressarem do jeito que quisessem”, ressaltou. As duas sócias começaram a pensar no empreendimento em março de 2019 e fizeram do processo de criação até o lançamento uma caminhada de cura e autoconhecimento. “Nós não queríamos que fosse só uma questão de sustentabilidade e moda, queremos trazer mais pautas, como mostrar o poder que a mulher tem”, salientou. Ambas acreditam que o investimento não será em vão e afirmam que esse é o futuro da moda. O que também foi reafirmado por Gabriella Dorça, sócia do bazar Próximo Closet, “acompanhar a moda é um ciclo interminável. Sempre com mudanças de estações as marcas lançam pequenas coleções também, o que vai fazendo o consumismo aumentar ainda mais, pois ainda há a necessidade de acompanhar e estar dentro do que é ditado no mundo. Por isso é o futuro do mundo”, conclui. Dessa forma é perceptível a importância da moda em tantos outros aspectos na vida em sociedade. Não é apenas aparência ou roupas, é o futuro, o que inclui a economia, igualdade de gênero e ainda a luta por um mundo mais ecologicamente correto.
Darah Gomes é jornalista, webwriter e apaixonada por moda.
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