Nilson Paulo Lima
“Correr duas maratonas seguidas sem dormir é algo assustador”
O nosso corpo é um mistério e na corrida sempre nos surpreende. Tem dia que
você acha que dá e não dá; em outros você acha que não dá e ele consegue.
Foi assim comigo na última Maratona de Moscou. Meu objetivo era concluir os
42 km,sem preocupação com o tempo, pois havia corrido uma maratona no dia
anterior em Oslo, na Noruega. Depois de um voo com conexão na Lituânia,
cheguei no hotel em Moscou as 4 horas da manhã. Só tive tempo de ir ao
quarto trocar de roupa, pois a largada da prova era logo em seguida. Correr
duas maratonas seguidas sem dormir é algo assustador. Diante das
circunstâncias, apenas completar já me deixaria feliz, pois era a primeira vez
que corria na Rússia e estava no meu roteiro de concluir uma maratona em
cada um dos 48 países da Europa. Dada a largada, só pensava em acabar
com dignidade e orgulhoso em correr três maratonas numa semana no velho
continente, já que, além de Oslo, corri em Londres. Os primeiros 5 km foram
vencidos com uma média de 5 minutos por km. O percurso plano e o clima frio
me deixaram animado. Completar a prova ou um honroso tempo? Pensei em
diminuir o ritmo e poupar para quando o urso cravasse suas unhas em minhas
costas na segunda parte da corrida. Segui nos 5 minutos por km, mas
preocupado com o que viria pela frente. Do km 25 ao 30, senti que o corpo
aceitava bem. Pensei não só em concluir, mas conseguir um resultado razoável
pra minha faixa etária. Mas a chuva e o cansaço acumulado cobraram sua
conta. As coisas pareciam se complicar e, no km 36, caiu para algo em torno
de 5’50’’ por km. Restavam apenas 6 km, o que pode ser uma eternidade se o
corpo não obedece. Mas ele reagiu e, assim como o anjinho e o diabinho
brigando pelo controle do joystick do cérebro, desta vez o corpo saiu
consagrado e terminei os 42 kms melhor do que planejado.
Nilson Paulo Lima é maratonista.
Facebook: nilsonpaulo.lima
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