Novos agentes políticos numa velha realidade com problemas crônicos crescentes.
O que vai mudar em Uberlândia depois das eleições municipais deste ano? Minha resposta é: muda nada. A quem perguntar se a política precisa se renovar, respondo com outras perguntas: Renovar como? Com novos políticos? Com pessoas jovens? Com novos projetos e promessas? Com novas esperanças? Sim! A esperança é a última que morre. Senhoras e senhores, não há milagres no Século XXI. O governo federal não tem dinheiro extra para repassar aos Estados e estes não têm com que socorrer municípios. Os recursos em todos os entes federados são escassos e, por esta elementar razão, limitados. O tempo em que o governo federal imprimia dinheiro ou emitia títulos da dívida pública para distribuir recursos públicos a fundo perdido aos municípios acabou. Não volta mais. Cada ente federado no Brasil precisa se ajustar à nova realidade e às próprias limitações. Houve há pouco tempo no Brasil uma campanha orquestrada por oportunistas contra os políticos tradicionais. Alguns interessados em ocupar espaço no poder político pediram votos a eleitores a quem garantiram que não eram políticos. Pura malandragem. O Sistema Governamental no Brasil é político. Logo, quem assume um cargo público numa democracia como a nossa é político.
O presidente Bolsonaro quando assumiu o mandato, para dar uma resposta esperada pelos eleitores que o elegeram, anunciou que formaria um Ministério de acordo com os critérios de uma Nova Política. Não queria ligação com a Velha Política. Mas política é política. Não há política velha nem nova. Existe um governo que se transforma de acordo com as circunstâncias sociais e políticas. Quem opera um Sistema Político é político. Quem faz mudanças na estrutura e na organização social são os delegados da sociedade que agem como mandatários da população do País. Os políticos, numa democracia, não passam de mandatários do povo. Nos regimes ditatoriais uma pessoa, um grupo ou uma oligarquia governa em benefício próprio. A democracia, segundo os critérios adotados no Brasil e na maioria dos países democráticos do mundo é o “governo delegado pelo povo que governa para o povo”. O sábio político mineiro Tancredo Neves dizia que um político em campanha para conquistar votos fala o que os eleitores querem ouvir, mas depois que ele se elege e assume o cargo vai governar ou legislar de acordo com os recursos disponíveis e com as circunstâncias que podem limitar-lhe as boas intenções.
“A política tem razões que a própria razão desconhece”
Uma das circunstâncias imprevistas para o atual governo do Capitão foi a Pandemia do Coronavírus. Essa pandemia alterou as intenções da política econômica liberal pensadas pelo Presidente. O governo liberal que há dois anos assumiu a Presidência do Brasil adiou o liberalismo da Escola de Chicago e recorreu ao assistencialismo lançado pelo PT para dar poder de compra a milhões de desempregados e de outros sem renda. Foi uma ação emergencial para não estrangular a estrutura de consumo montada no País. O principal objetivo foi manter vivas milhares de pequenas e médias empresas e não aumentar o desemprego. Isto não é liberalismo econômico. Pode ser assistencialismo emergencial. Em Uberlândia, o prefeito que se elegeu há quatro anos e se reelegeu agora, é um administrador público experiente, racional e habilidoso. Desde o dia que assumiu o atual mandato tinha em mente um projeto de mobilidade urbana e outro de saneamento, ambos de alto custo. Elaborou os projetos com definição prévia de objetivos e procurou apoio federal e financiamento. O prefeito de Uberlândia, com a experiência que adquiriu em Brasília como líder do um partido político e com a convivência que teve com o poder, acertou os financiamentos. Foi um dos poucos prefeitos do Brasil que teve recursos para custear obras e serviços num ano tumultuado como este de 2020. O sucesso não foi resultado de ajuda federal nem de boa sorte. Foi a experiência adquirida no líder político diário.
Uberlândia hoje não é mais uma média cidade. Passou desta categoria para a de grande cidade com mais de 700 mil habitantes e em breve terá 1 milhão de viventes humanos aqui. Os problemas sociais locais vão se multiplicar. Dou-lhes um exemplo: alguns prefeitos acreditaram que se construíssem milhares de casas resolveriam o problema da habitação popular. Em Uberlândia, nos últimos 20 anos, foram construídas mais de 40 mil casas populares. Parte das famílias que se abrigaram nestas casas entraram em contato com parentes, aderentes e amigos que ficaram distante e os estimularam a se mudarem para cá. Alguns chegaram e invadiram áreas públicas ou particulares. Hoje a demanda por casas populares aqui vai a mais de 50 mil unidades residenciais. Esse problema é contínuo numa cidade em crescimento. O aumento da população gera demanda na saúde, na educação, na segurança, nos transportes urbanos, no mercado de trabalho. Estes problemas não são resolvíveis por simples vontade política ou ajuda do governo federal, do governo estadual ou de um Poder Superior. Os vereadores que se elegeram no dia 15 de novembro deste ano, que ainda não conhecem a problemática social local, entrarão no ano que vem em contato com ela e logo perceberão que a distância entre a promessa que fizeram para pedir votos e a realidade é muito grande. Novos agentes políticos, novas esperanças. Isto é próprio da democracia. Que todos se preparem para enfrentar uma realidade social nua e crua. Muitos descobrirão, na prática, que a política tem razões que a própria razão desconhece.
Ivan Santos é jornalista e analista político.