O cinema sempre buscou trazer às telas os sintomas da sociedade a sua volta.
De todos os gêneros cinematográficos de Hollywood, este é um que gera bastante controvérsias, seja quanto a sua duração (alguns definem um período clássico entre 1941 e 1958), seu estilo – se necessariamente tem que ser filmado em preto e branco, se tem que se passar em uma atmosfera totalmente urbana. No que tange a explanações, elas podem ser muitas, no entanto, alguns fatores definem suas influências, pois inspiram-se nas sombras e desconstrutivismo do expressionismo alemão, em grande parte influenciados por Fritz Lang e Karl Freund, que utilizavam dessas técnicas em suas películas para trazer obscuridade e angústia aos personagens. O cinema em sua trajetória sempre buscou trazer às telas os sintomas da sociedade a sua volta, talvez por esse motivo, os temas do cinema Noir fossem tão envolvidos nessa atmosfera de fatalismo e desconfiança, tendo em vista que a Segunda Guerra e seus efeitos colaterais estivessem ainda muito presentes na vida das pessoas.
Humphrey Bogart – O Falcão Maltês
Outro fator que define de forma bastante clara esse estilo está nos heróis que raramente são bonzinhos, pelo contrário, eles são cínicos e sempre querendo levar vantagem. Um filme que é precursor do gênero e que podemos notar essa característica é “O Falcão Maltês (1941), de John Huston, com Humphrey Bogart na pele de Sam Spade, um detetive cínico e calculista, o filme ainda tem elenco de peso, com Mary Astor e Peter Lorre, para contar uma história empolgante de assassinato e corrupção. A propósito, a corrupção frequentemente está no centro dos temas Noir. Um filme bastante psicológico e envolvente, que mostra o lado corruptível do ser humano é “A sombra de uma dúvida” (1943), de Alfred Hitchcock, que traz Joseph Cotten como o sedutor Tio Charlie, que é admirado e está acima de qualquer suspeita, até que Charlie (Teresa Wright), sua sobrinha começa a desconfiar do verniz de bom moço, como em todas as excelentes obras de Hitchcock, o final é surpreendente.
A sombra de uma dúvida – de Alfred Hitchcock
Mas, nem só de heróis desiludidos vive um bom Noir, as heroínas doces e submissas dos musicais e romances dão lugar a femmes fatales, mulheres que também agem movidas apenas por instintos de sobrevivência, sendo cruéis e frias. Um dos melhores filmes que traz esse papel bastante definido é “Pacto de Sangue” (1944), de Billy Wilder, com uma atuação sensacional de Barbara Stanwyc (ela também interpretou papel semelhante em “O tempo não apaga” (1946), de Lewis Milestone, ao lado de Kirk Douglas), onde usa sua sedução manipuladora para levar Walter Neff, vivido por Fred MacMurray, para conseguir o que quer. E como um bom Noir tem que nos causar sempre algum impacto, seja raiva ou desconforto, sugiro “A marca da maldade” (1958), de Orson Welles, com ele no papel de policial corrupto, mostra uma nuance avassaladora da corrupção e degradação da consciência humana. Tem ainda Marlene Dietrich na característica femme fatale impiedosa e desiludida. Vale muito a pena!
Elizete Moura é formada em administração de empresas,
professora, gerente de vendas e apaixonada por cinema clássico. Instagram: elizeteemoura | Linkedin: elizete-moura-65ª305145 E-mail: [email protected]