“Seja bem-vinda e dessa vez vou te ajudar a cuidar de você”
Ela esteve ali o tempo todo. Nunca saiu do lugar. Eu, pelo contrário, virei as costas. Fugi. Fingi indiferença, mas hoje sei que era medo. Não dela. Aliás, ela nunca me fez mal. Mas um dia – nem sei bem qual foi – eu deixei de olhar, visitar. Acredito que a última vez que a encontrei eu deveria ter uns 13 anos. Depois o afastamento se fez. Até que a vida dá muitas voltas e há um ano reaproximamos. Não nego a estranheza e até mesmo uma dúvida de que eu seria capaz de estar mais perto. Me lembro o primeiro dia. Desci uma rampa, atravessei um pequeno túnel, subi cinco degraus e a vi. Serena e com pássaros a passear por sua água serena. Juntas de novo. A piscina olímpica do Praia Clube e eu. Ela me recebeu em um dia de muito sol. Jamais vou me esquecer da luz no jardim de palmeiras, coqueiros e primaveras que a cercam. Silenciei em minha insignificância. Foi como se ela me dissesse: “eu sabia que você retornaria. Seja bem-vinda e dessa vez vou te ajudar a cuidar de você”. E pulei para a minha primeira aula de natação. Por recomendação médica fui parar ali e ela me acolheu. Em princípio seriam três vezes por semana, mas hoje minha necessidade é de estar com ela todos os dias. E sempre às três da tarde. É o compromisso que assumi comigo de fato. Não gosto de faltar. Ali ela me mostra o que é fluir, me traz dor, mas também muita paz. A piscina me ensina que naquele quadrado não há espaço para ‘coisas’ que me impeçam de deslizar. Ficam de fora. Por mais que eu precise segurar a respiração, mais ar sinto nos pulmões. Um fôlego para expirar um perfeccionismo que ainda carrego para soltar o cansaço do mundo e, às vezes, da vida. Sim, a gente não é feliz o tempo todo. Vem mesmo a falta de paciência com esse lugar que habitamos e têm suas mazelas que por mais distantes que estejam parecem fazer abrigo na nossa casa. A piscina me revelou que aquele receio era uma bobagem e agora me sinto à vontade com o maiô. Com meu corpo maduro. Com as marcas da vida. E com a disposição que escondi por tanto tempo. Demorou, mas agora que nos reencontramos é pra sempre.
Mônica Cunha é jornalista e apresentadora de televisão.