A intensidade, a sensibilidade e a singularidade tornam as criações de Bárbara Farina nitidamente autorais
O prazer de servir é genuíno, algo natural para a Chef Bárbara, que teve a coragem de buscar a sua própria realização. Ela cuida da decoração, da louça e das receitas. Natural da vizinha Araguari, é em Uberlândia que expandiu seu negócio. Ainda na juventude, terminou a Faculdade de Arquitetura, na Universidade Federal de Uberlândia, mas percebeu que a sua alegria estava na cozinha. “Eu sempre gostei de cozinhar, ainda adolescente fazia bombons para vender na escola”, lembra ela, que durante a graduação manteve os pés na cozinha com a produção de bem-casados. Mas a habilidade vem de família, já que a sua bisavó gostava de receber pessoas e preparar pratos deliciosos, cuidando de todos os detalhes, tanto que até “as fatias do pão eram milimetricamente cortadas”.
Em cada prato, doce ou salgado, estão as referências da vida dessa profissional. Após terminar Arquitetura, ela formou-se em Gastronomia e teve experiências na Itália e na França, no continente europeu. A primeira formação treinou o olhar para o belo e a segunda trouxe a libertação e a descoberta de si mesma.
“Eu me interesso verdadeiramente pelas pessoas, então, lembro de cada trabalho que já fiz”, conta. E, tenha certeza, é fácil perceber isso, no cake de amora ou nos bombons que estão na loja. A explosão de sabores oferece experiências gastronômicas únicas, que só uma pessoa que quer oferecer o melhor pode fazer. Os ingredientes – como o chocolate belga importado ou as amêndoas defumadas -, o ambiente acolhedor e a gentileza no atendimento são o resultado de uma dedicação praticamente integral. A cozinha é a continuação da casa dela. Durante as produções, música de qualidade para afagar a alma e muita parceria com cada integrante da equipe. Por isso, mesmo nesse momento, tendo de buscar alternativas, fez questão de manter os dez colaboradores.
Tudo é muito autoral, até o café que é servido foi criado a partir de uma combinação de grãos escolhida por Bárbara. A atenção com cada detalhe às vezes transforma-se em perfeccionismo, algo que ela mesmo busca melhorar por meio da espiritualidade e da aceitação de suas próprias limitações. “Em um dos nossos trabalhos, fiz um bate e volta de Uberlândia a São Paulo. Um dos parceiros me avisou que não poderia montar os pratos do nosso kit corporativo. Eu não pensei duas vezes, entrei no carro e fiz pessoalmente o trabalho”, recorda.
Mas essa entrega também rende reconhecimento. Bárbara Farina está nos Jardins, bairro nobre da capital paulista. Primeiramente, chegou no café do renomado salão de beleza Jacques Janine, em seguida, foi convidada para ser a responsável pelo Café Slama, do estilista Amir Slama, onde se mantém até hoje.
Como você conseguiu o primeiro trabalho?
Eu lembro até hoje. A Selma Carraro Arantes acreditou em mim. Ela permitiu que eu, na época com 19 anos, fizesse uma megafesta, em Araguari. Isso me abriu portas. E, o mais interessante é que, até hoje, faço os eventos da família. Já no ambiente empresarial, a Família Martins, do Grupo Martins Atacadista, me permitiu levar a alta gastronomia para os eventos corporativos. Sou muito grata por essas pessoas terem confiado em mim quando eu estava começando.
Como você avalia esse momento que estamos vivendo?
Não passou, é uma superação a cada dia. Eu falo que estou no gerúndio, ou seja, superando. Não é uma situação confortável. Eu tive que fazer adaptações. Muitas festas foram canceladas. Então, logo percebi que era preciso oferecer alternativas. No caso dos ambientes corporativos, consegui desenvolver um kit especial para manter meus clientes em vários estados, como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás.
A loja entra em qual contexto na sua trajetória?
Eu sempre tive esse sonho, mas ele foi sair do papel somente no ano passado. Afinal, precisamos nos manter ativos e trabalhando. Eu desenvolvi os dez produtos que estão expostos, como cocadas e chocolates, além de azeite e manteiga.
O que te ajuda a manter-se criativa e disposta a empreender?
Eu tenho uma grande capacidade de resistir, então desistir não é uma opção. Mantenho uma rotina de atividades físicas e orações. Estou aprendendo a manter o que é essencial. Só que atualmente não penso muito em mim, mas em manter o emprego dos meus colaboradores. E, para manter essa alta performance, é preciso saúde mental e física, além de um ambiente de trabalho saudável.
Como consegue fazer isso?
Esses dias, ouvi um dos colaboradores definindo a empresa como um espaço de amor e carinho. É isso, fiquei muito feliz, pois mesmo no ambiente de negócios é possível manter um equilíbrio e permitir emoções.
Qual é o seu prato preferido?
O “mexidinho” da minha mãe (Angélica).
Quais são as mudanças que percebe em você?
O desenvolvimento da autoestima e da autoconfiança, que são indispensáveis para uma mulher. Eu já tive raiva de ser mulher, pois nem sempre somos respeitadas. Achei que era preciso ter um lado masculino mais forte. Hoje, sei que não é isso, muito pelo contrário, tanto que incentivo minha filha adolescente a desenvolver sua sensibilidade.
Ser mulher é?
Um privilégio.