Pedalar é muito mais que um hobby, é um estilo de vida
Com o isolamento social, as pessoas passaram a buscar por novas fontes de lazer que pudessem ser inseridas no cotidiano da quarentena. Uma das alternativas que ganhou o coração da galera foi a prática de bike. Estima-se que em 2020 a venda de bicicletas tenha crescido mais de 100% durante a pandemia, se comparada ao ano de 2019, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). E motivos para esses números é o que não falta!
Pedalar, além de auxiliar na saúde física – promovendo o emagrecimento, maior resistência muscular; melhoria da circulação sanguínea, pressão arterial; controle glicêmico e de colesterol; na recuperação de lesão ósseas e artrite -, contribui fortemente para a saúde mental, visto que alivia o estresse, a ansiedade e até mesmo a depressão. Isso se explica pois, durante o exercício, endorfina é liberada e a substância possui a capacidade de controlar e prevenir desordens mentais. Além desses fatores, a bicicleta ainda consegue ser uma ferramenta de fazer amigos. Há muitas histórias de amizades – e até amores! – que começaram através do pedal.
Um desses casos é o da Danielle Zappulla de 31 anos e do Márcio Antônio Dorázio de 43. Eles se conheceram em 2015 durante um passeio de mountain bike que reuniu mais de cinquenta ciclistas. Na época, foram apresentados um ao outro por uma amiga em comum. Passado algum tempo, começaram a pedalar juntos e a amizade foi crescendo, amadurecendo, intensificando até ser transformada em paixão. “Desde então, cultivamos, além do nosso amor, o hábito de praticar esportes juntos, a citar ciclismo, corrida e natação”, conta Danielle. Hoje, os dois alimentam um Instagram chamado Casal de Bike (@casal.bike), no qual postam fotos, dicas, percursos, vídeos e palavras de motivação para quem deseja começar. É inspirador! “Para nós, pedalar é muito mais que um hobby; é um estilo de vida”, esclarece Danielle. Segundo ela, o esporte trouxe saúde, disposição e é a terapia do casal. “Na bike, você pode pensar em tudo e colocar as ideias em ordem. Ou simplesmente não pensar em nada; meditar. O mais legal é que podemos fazer isso sozinhos ou em grupo, devagar ou rápido, passeando ou se exercitando”, completa.
Há grupos de ciclismo na maioria das cidades. Só Uberlândia conta com quase 50 associações do esporte. Bastante conhecido por aqui, o Caveras da Madrugada reúne quase 400 pessoas. Weverton Gonçalves, mais conhecido como Caverão, conta que, inicialmente, alguns pais de família se reuniam antes do nascer do sol para pedalar, visto que esse era o único horário possível, em meio à conciliação de tarefas do dia a dia. Além disso, um de seus integrantes sempre usava camisas com símbolos de caveira nas trilhas; dessa forma, ao consolidar-se como grupo, escolheram um nome que os representasse.
De forma apaixonada, Caverão fala sobre a magia de colocar o pneu na terra e se desligar do mundo. Para ele, a bike é o único esporte que cabe toda a família, visto que não faz distinção entre uma criança de 5 anos e uma senhora de 70. Dentro da associação, no entanto, as equipes são separadas por afinidade, grau de evolução, liberdade e tipo de foco. As quatro principais são: as Caveretes – composto somente por mulheres; os Caveras da Madrugada – integrado somente por homens; a Equipe de Treino e a Equipe de Elite, ambas em formato misto e destinadas às competições. Em muitas das vezes durante o percurso, Weverton não conta o destino aos ciclistas; segundo ele, quando as pessoas pedalam sem imaginar a dificuldade à frente, acabam superando seus próprios limites. Tal confiança foi consolidada sobre rodas em uma amizade e um companheirismo que ultrapassam os encontros semanais. Hoje, pode-se dizer que os Caveras da Madrugada são uma verdadeira família.
O ciclismo e a amizade estão de mãos e correntes dadas
Maria Eduarda Ribeiro, de 18 anos, pedala há 7 meses com o grupo Caveras da Madrugada. A estudante começou a prática após um laudo de depressão, na qual tanto psicólogo quanto psiquiatra indicaram a atividade física como parte do tratamento. Ela, que nunca se imaginou pedalando, descobriu na bike, uma válvula de saída para seus problemas: “posso dizer que renasci através dela! Conheci o Caverão e ele me ajudou a enfrentar minhas questões e, principalmente, a descobrir as maravilhas que o pedal proporciona”. Sua mãe, Maristela, conta que já não via saída para a filha: “Maria Eduarda tinha pensamentos ruins, não conseguia dormir; tomava cerca de seis remédios por dia e, ainda assim, não havia melhora. Foi a bicicleta quem devolveu minha filha. Após iniciar no ciclismo, ela recebeu alta do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e dos medicamentos. Brinco que hoje a psicóloga dela tem duas rodas”.
Após tanta superação e evolução por meio do equipamento, Maria Eduarda dá um conselho para quem também se encontra perdido: “às vezes as pessoas, assim como eu, perdem o encanto pela vida, não acham escapatória para os problemas, não se sentem capazes e pensam em desistir. Eu sou a prova viva de que, em algum lugar, em alguma coisa, você se encontra. No meu caso, foi o poder transformador da bike quem me salvou. E, talvez, também seja o seu. Por isso, comece já! Pedalar aumenta a imunidade, apresenta a novos amigos, faz bem ao corpo e, principalmente, à mente”. Já dizia Albert Einstein: “Viver é como andar de bicicleta. É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”.
A diretora de ensino Eduarda Dias, 34 anos, também acredita que a bike proporciona momentos inesquecíveis: “através do contato com a natureza, passamos a observar a vida de outro ângulo, um que antes passava despercebido”. Ela começou a pedalar há cinco meses e percebeu as mudanças logo de início: fez várias amizades – o que na cidade grande é bastante difícil; diminuiu o estresse; aumentou a resistência física e melhorou tanto a respiração quanto a disposição. Hoje, Eduarda se dedica aos treinos, pois objetiva competir. E diz que, em meio às dificuldades, é o companheirismo, no qual um sempre ajuda o outro, que torna tudo mais fácil. Além disso, dá o recado: “comece onde estiver, com a bike que tiver; o importante é sair da zona de conforto”.