O que o home-office ensina sobre a evolução das relações de trabalho?
Recentemente, fizemos 365 dias da descoberta do primeiro caso de infecção do Covid-19 no Brasil. Como consequência de uma das maiores calamidades da saúde da História, estamos chegando também ao primeiro aniversário de uma das maiores revoluções do mundo do trabalho: a não mais opção, mas sim, obrigatoriedade do trabalho remoto (não para todos, mas para uma boa parte da população economicamente ativa).
No início do processo, vimos um enorme desafio, principalmente por parte das áreas de Tecnologia e Recursos Humanos, pelo fato de terem que construir, do dia para a noite, alicerces ferramentais e até jurídicos que permitissem aos negócios a continuidade de suas operações com o menor impacto possível (sem contar, claro, com as difíceis condições mercadológicas da nova realidade de mundo).
Aos que ultrapassaram a arrebentação da tormenta inicial, após o período de adequação estrutural, veio uma nova fase que perdura até hoje e, ouso dizer, se perpetuará mesmo ao fim da pandemia: a necessidade de readequação comportamental no que diz respeito à avaliação do trabalho do outro, principalmente quando falamos da relação de líderes com liderados. Curioso, né?! Como estar mais distante e ao mesmo tempo obter um olhar mais responsável (mais aberto, descentralizador e respeitoso) sobre comportamento alheio?
As relações de trabalho e o exercício de poder dentro das empresas, por muito tempo, se caracterizaram pelo sentimento de que a produtividade é fruto de controle e, até certo ponto, de imposição do modus operandi. Está certo que já há algum tempo, as startups e os líderes mais sábios já vêm sugerindo a eficácia de um novo modelo de gestão mais holístico. Mas, é inegável que a necessidade da gestão de pessoas à distância veio como um duro golpe para as mentes centralizadoras, inerentes aos que são mais “chefes” do que líderes inspiradores, de fato.
O mundo vem mudando demais, com velocidade enorme. Claro que sabemos que há uma série de ambientes produtivos que demandam a presença física, operações que necessariamente demandam o trabalho em conjunto – sem contar com o fato de que a distância também não impede o “controle” -, mas, ainda assim, está claro que não há mais espaço para o ditado “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. As estruturas psíquicas dos seres humanos modernos (o que se estende ao trabalho) tendem a interpretar, cada vez mais, as relações de forma mais horizontalizada, menos hierárquicas, mais respeitosas e que se baseiem mais na confiança, auto-gestão, descentralização de poder, autonomia e, por fim, no sentimento de que produtividade é fruto de muitas outras questões que não o “chicote”.
O líder moderno tende a se preocupar mais com a entrega do que com as horas trabalhadas, por mais estranho que isso lhe pareça a priori. Trata-se de fornecer as ferramentas, acompanhar dando autonomia, corrigir quando necessário e ser parceiro daquele que também tem capacidade de se auto gerir. Aí a mágica acontece. Mesmo que o liderado passe à tarde no médico com o filho ou acorde um pouco mais tarde porque na véspera já trabalhou demais. O mundo mudou.