Essas, são altamente sugestionadas pelos pais e pela família em geral, por qual caminho seguir e gerar alegria e orgulho a todos, menos a si mesmas.
Existem milhões e milhões de pessoas vivendo a “Matrix”, aquele funcionamento onde escravizamos e somos escravos, onde quase não questionamos e respondemos aos estímulos externos, iludidos pelo senso de sobrevivência criado pelo social.
Para existir com dignidade, ou ser alguém na Matrix, precisamos de um bom emprego, fazer escolhas que todos possam compreender, estar à altura dos desejos paternos e maternos, cumprir com os protocolos das religiões e do capitalismo. Fazer faculdade, forma-se, casar, ter filhos, ter netos, morar bem, ser bem visto e quisto na comunidade, mesmo que todos os seus defeitos estejam bem varridos para debaixo do tapete.
Quando procuramos uma terapia, uma análise de comportamento, quase sempre estamos questionando o sistema, fora dele por exclusão ou estressados por estar funcionando em total automatismo. Sofremos pelo excesso de ser e de não querer ser. Sofremos por resistir e por nos entregar demais.
Quantas pessoas já nascem com a responsabilidade de salvar uma família inteira e seus antepassados? Essas, são altamente sugestionadas pelos pais e pela família em geral, por qual caminho seguir e gerar alegria e orgulho a todos, menos a si mesmas.
Tão importante quanto escutar o desejo de todos ao redor, é escutar os nossos desejos. Bancar a falta de concordância com um mundo que está funcionando de forma doentia. Ter bons aliados conscientes e que não esperam nada de você, basta apenas ser você.
Quando escolhemos ser o que somos, sem responder ao social, podemos sofrer sim em algum grau, mas a liberdade vale mais no final das contas. Isso porque, nos consultórios de psicologia encontramos clientes que nos procuram por uma sensação de infelicidade e angustia, mesmo tendo alcançado posição social, formado uma família, sendo bem visto. Nós, psicólogos, encontramos aquela poeira debaixo do tapete e sabemos que limpar isso é o que todos querem, mas não têm coragem.
Continuamos nos enganando muito quando vivemos para ganhar dinheiro apenas, comprar coisas para ser alguém para os outros, deixar de seguir nossas vontades por medo do que possam pensar. Quando menos percebemos, fugimos tanto dos nossos desejos que entramos em depressão ou simplesmente nos entorpecemos perante a vida.
Sugerir a pausa beira o clichê no mundo tão acelerado e automatizado. Mas clichês também são necessários. Aquele atual “Pare respire e inspire” nunca sairá de moda. Pois sim, se a gente não respira, não temos a chance de usar a consciência, não temos silêncio interno suficiente para agir assertivamente. É só através do silêncio que podemos nos escutar de verdade.
Quando adquirimos sabedoria e coragem, escolhemos mudar as rotas, desfazer as projeções dos outros, pedir desculpas por não corresponder ao desejo alheio. Quando escolhemos ser alguém diferente do que éramos, podemos magoar muitas pessoas, acostumadas com dinâmicas comportamentais cegas e que nós respondíamos antes. Quando escolhemos fazer diferente da maioria, precisamos de coragem, pois seremos julgados pelo sistema. Mas quando estamos ao nosso lado, sentimos uma sensação de plenitude e isso é a melhor coisa que podemos oferecer ao mundo.
Quando escolhemos o que fazer com o tempo, o que ler, assistir, com quem conversar, qual novo aprendizado, as músicas que escutamos, quando abrimos para as descobertas artísticas, quando acordamos e escolhemos fazer as mesmas coisas, estamos escolhendo ser alguém. Cada nova ação constrói nosso novo eu, a cada minuto. Quem você escolhe ser?
Quando temos a sensação de sermos levados pelas obrigações, deixamos de escolher, acordamos e estamos no automático, você deixou de escolher. Quem você deixou de ser?
Podemos ser alguém novo a cada dia, mas temos muito medo disso, pois o desconhecido causa medo. Por isso somos tão preconceituosos. Somos a única espécie preconceituosa, temos medo de nós mesmos. Precisamos falar sobre isso…