Eu fiz cinquenta anos em março de 2022 e confesso que não me preparei bem para a entrada do meu meio século de vida. Tantas coisas aconteceram nos últimos meses: me separei recentemente, finalmente estou me dedicando à escrita – e claro que nada disso é ruim, pelo contrário – mas ter 50 significa que não há mais 40 anos lá fora para eu fazer tudo o que eu sempre quis. E apesar de estar fisicamente muito bem, dona de uma saúde invejável, eu não me sinto jovem, e sim atrasada. Resumindo: o resto da minha vida tem uma pátina de fatalismo que não possuía antes dos 50. Até porque, de certa forma, sinto-me como se eu estivesse começando a minha vida agora. Ou melhor, como se estivesse reinventando uma nova existência. E estou.
A verdade é que fazer cinquenta anos é um marco no jogo da vida. É como um alarme que nos lembra de que o problema de envelhecer não tem a ver com as rugas, com os cabelos brancos, com a nossa aparência, mas sim com a consciência do tempo que nos resta. E no meu caso, a consciência do tempo perdido.
O poeta Victor Hugo uma vez disse: “Quarenta é a velhice da juventude e cinquenta é a juventude da velhice!”. Esta citação certamente me dá uma sensação agridoce quando penso que é exatamente isso: estou nova em parte, e estou envelhecendo também. Ou melhor, não tenho como refazer os meus passos, mas ainda tenho muita energia para me mover.
Resumindo: existem o Yin e o Yang nos processos naturais do envelhecimento. E foi com isso em mente que escrevi meus pensamentos sobre o bem e o mal de completar cinquenta anos.
O lado bom:
Você está vivo!
O sentimento que prevaleceu no meu aniversário de cinquenta anos foi a gratidão; gratidão por estar viva e bem e chegar aqui com a cara de menina e uma saúde de ferro. Principalmente porque no final do ano pasado eu tive a triste noticia que uma das minhas melhores amigas, nos Estados Unidos, está travando uma batalha contra o câncer de mama. E isso mexeu muito comigo. A vida é tão imprevisível, portanto todo aniversario que acordamos vivos e respirando é uma dádiva.
Pensei também em pessoas que morreram no mundo todo na carnificina causada pela COVID. Pensei na minha melhor amiga, Daniella, que foi assassinada brutalmente aos 22 anos pelo Guilherme de Pádua. Desejei que ela estivesse viva e que tivesse tido a oportunidade de completar cinquenta anos, e que pudéssemos ser membras do clube de cinquenta anos juntas.
Você é mais sábio
Em híndi, há um provérbio que diz: “Maine Dhoop mein baal safed nahi kiye hain”. A tradução literal dessa expressão é: “Eu não fiquei com o meu cabelo branco por causa do sol”. O significado mais amplo é que seu cabelo fica branco com as experiências de vida e com a sabedoria inestimável que você ganha à medida que envelhece. Eu aprendi muito com os erros que cometi ao longo dos anos e agora tenho melhores percepções e conhecimento sobre o que quero para a minha vida.
Aumento da Autoestima e Confiança
Lutei muito contra a baixa autoestima na minha adolescência, mas aos cinquenta anos sinto-me mais confiante do que nunca em relação à minha aparência e personalidade. É, realmente, irônico que eu não tenha percebido quão bonita eu era quando era mais jovem. Agora, apesar de algumas rugas e da pele mais flácida, acho que sou linda. Amo meu corpo e todo prazer que ele já me proporcionou e ainda proporcionará. Em outras palavras, evoluí para uma versão mais forte, mais ousada e melhor de mim mesma.
Você aprecia mais tudo
À medida que envelheço, fico mais e mais agradecida e emocionada. Eu sinto mais tudo em minha volta, e eu sou cada vez mais empática. No meu aniversário de cinquenta anos, eu recebi uma abundância de amor dos meus amigos e me senti profundamente grata por cada um deles. Cada belo desejo levantou meu espírito e me colocou nas nuvens. Aos cinquenta, sinto-me contente com as pequenas grandes coisas e conto minhas bênçãos todos os dias. Não me preocupo que a grama seja mais verde do outro lado, aprendi a regar a minha própria grama e ser feliz assim.
O ruim:
Menopausa
Ainda não cheguei lá, mas estou a caminho e confesso que não tem sido fácil. Sinto vários sintomas e mudanças no meu corpo que, segundo o meu médico, têm a ver com o fato de eu estar na perimenopausa. Há quem diga que a menopausa é maravilhosa, eu não acho. Hormônio é vida, isso sim. E todas as mudanças hormonais que levam à menopausa são as piores. Mudanças de humor, irritabilidade, perda de memória, espinhas, pele seca, hipersensibilidade; com a menopausa, você revisita a montanha-russa de emoções que sentiu na adolescência. É duro!
Perda de memória
Ando esquecendo tudo o tempo todo. O tal do “brain fog” é real e é um horror! Lembro-me de rostos, mas não consigo lembrar os nomes que acompanham esses rostos, e é vergonhoso quando você conhece as pessoas, mas esquece seus nomes. Sem contar que eu luto, diariamente, para lembrar todas as minhas senhas de contas diferentes. Volta e meia eu cancelo o cartão do banco porque digitei a senha errada. Ou seja, eu basicamente virei a louca da lista. Faço lista para tudo, anoto tudo o dia todo, se não eu esqueço.
O Tempo
Nada vale mais do que o tempo. Aliás, tempo e saúde. E eu, agora que completei cinquenta, percebi o quanto que a vida é um sopro e o quanto de vida vivida desperdicei com coisas e pessoas ruins. Perdi bastante tempo com inutilidades, casei com gente tóxica e me arrependo profundamente quando olho para trás. Isso tudo dito, quando ponho na balança, creio que o bem de completar cinquenta anos supera o mal.
Se nada mais, hoje em dia estou mais consciente do que nunca da minha finitude e aprendi que não preciso mais aturar pessoas condescendentes e de índole duvidosa, simplesmente porque eu não sou assim. A grande virada da maturidade é que não estamos mais nem aí se somos aceitos pelo outro ou não.
Conlusão: meia-idade não é nenhum bicho de sete cabeças. Na verdade, pode ser um excelente momento para novos começos se nos permitimos.
Como disse Ingrid Bergman: “Envelhecer é como escalar uma montanha; você fica um pouco sem fôlego, mas a vista é muito melhor!”.