A primeira vez marca definitivamente nossa trajetória. O primeiro amor, a famosa “primeira vez”, a primeira entrevista de emprego, o primeiro salário, o primeiro filho, a primeira demissão, o primeiro contato com a morte e por aí vai.
Nem sempre estamos preparados para lidar com a primeira vez. Não é à toa que ouvimos falar que o segundo filho tem mais anticorpos que o primeiro, o bico cai no chão e nem fervido novamente é, etc. Isso acontece porque, com o segundo, os pais já têm experiência para lidar com situações que não estavam preparados para lidar com o primeiro. Outro caso que comprova que não estamos preparados é a relação com a perda. Na primeira, demoramos um tempo muito maior para superar e, por vezes, nos sentimos culpados por não termos tido uma atitude diferente que, talvez, pudesse mudar o rumo das coisas. Mas o fato é que não devemos carregar essa culpa, por não termos demonstrado comportamentos e ações mais eficientes para os quais não estávamos prontos e com a devida experiência para lidar de uma outra maneira.
A expectativa que depositamos em nós mesmos é criada pós contato com a primeira vez, e isso é uma imensa incoerência. Como podemos esperar de nós mesmos uma ação inteligente, racional e sensata de uma situação que não conhecemos e jamais experimentamos?
Por que nos cobramos tanto, nos martirizamos e nos flagelamos porque não tivemos a atitude que achávamos mais correta de ser tomada, avaliando horas, meses, talvez anos depois, a situação em um local calmo, sereno e longe da adrenalina típica dos momentos desconhecidos?
Somos mestres em nos tornarmos comentaristas de obras prontas e críticos ferrenhos de quem fomos no passado, e carregamos esse peso sem necessidade já não somos aquela pessoa ignorante sobre aquele determinado assunto porque já experimentamos e, agora, sim, já estamos preparados para ele. O grande erro é que ficamos olhando pelo retrovisor, presos a situações do passado e nos esquecemos de nos prepararmos para os desafios do futuro. E o resultado é que vamos entrando em um processo cíclico e, de primeira em primeira vez, vamos nos deparando com nossa inexperiência para lidar com nossas falhas, com nossas relações, com nossas vidas.