LEVANTEI ASSIM QUE O SOL SAIU DA MINHA VISTA
O fim de tarde do primeiro dia de junho foi numa praça. Debaixo da sombra de um flamboyant. Sentada em uma das três toalhas para forrar a grama e abrigar o lanche. Tinha mexerica enredeira, banana, suco de laranja, biscoitos de queijo, torrada e rosca carregada de doce. Sentamos ali por um motivo. Talvez até mais. O principal deles: falar de Deus. Um compromisso assumido há um mês entre colegas de trabalho que viraram amigas, melhor, uma família. Toda sexta a gente estuda, conversa sobre tudo que cerca o ser humano: medo, angústia, vontade de entender melhor por que estamos aqui e por aí vai. Faz bem. Uma sensação de ‘não solidão’ nesse vasto mundo. Levantei assim que o sol saiu da minha vista. Me despedi e senti o alívio de uma semana nada fácil. Não para mim, mas para todos. Fui para casa. Noite quando cheguei. Joguei a bolsa na poltrona, bebi água e fui para meu pequeno jardim respirar a noite. Foi quando a mensagem chegou. Solane, uma amiga corredora das boas, me convidava para um ‘programa legal’. Perguntei qual e ela me disse: correr na terra. Sabe aquele cansaço? Então, ele gritou o NÃO para mim. Foi a minha resposta. Mas Solane não se convenceu. Me ligou. Conversamos e com jeitinho – que só ela tem – fez minha falta de energia virar entusiasmo por algo que poderia ser incrível. E como foi!
Acordei cedo, tomei café, enchi minha garrafinha, passei o protetor e lá fui eu. Ou melhor, nós. O marido dela e outra colega me pegaram em casa. Fomos de carro até a entrada da fazenda. Uma manhã de outono como deve ser. Céu escancaradamente azul. Friozinho suportável. A entrada do lugar tem um corredor de árvores. Passei por ele caminhando até que Solane e Cleide – elas são ultramaratonistas – apontaram na curva! Passaram por nós e nos pegaram pelos pés! Não tem como descrever a sensação de pé batido na terra, o cheiro de pasto, barulho de cascalho, sol passando raspando… Dois cachorrinhos, típicos de roça, bem empoeirados, saem pela porteira para ver o que há. Há, amiguinhos, logo ali na frente um lago cercado de verde. Lá longe tem um vapor… Penso que é a água acordando devagar… Retomamos o percurso. Um morrinho à toa e à direita mais um corredor. De um lado arbustos de rosas vermelhas gigantes. Minha amiga disse que é flor, se chama Santa Teresa. Abençoado seja esse caminho que nos leva a uma plantação NA TRILHA DE TERRA de café. Estão lá os grãos escuros prontos para a ‘panha’. Chegamos ofegantes e para matar a sede, água de coco. Gentileza do anfitrião, Reges. Fico ali sentada e logo vejo um tucano beliscando sementes. Juntos saímos para o pomar e Reges vai contando de cada muda que plantou. São tantas. Do pé de jaca carregado à coleção de palmeiras de todo canto do mundo. Experimento acerola. Arranco uma folha do pé de canela e outra do pé de cravo. É como beber chá pelo nariz! Na rota de sabores, sou apresentada ao butiá. Doce! Foi um treino, foi um passeio. Foi o melhor que podia fazer para que o meu fim de semana tivesse sentido. Foi descansar cansado o corpo, mas pausando a mente inquieta. Foi estar entre amigos antigos que priorizam a saúde e os desafios. E ali mesmo, debaixo da casa do João de Barro, estabeleci o meu. Deixar que meus pés me levem a trilhas como essa, onde a vida é plena de sentido.
I Jornalista: Mônica Cunha I Divulgação: Bruno Fernandes I